Relatório: Canábis e cocaína as drogas mais consumidas, opiáceos sintéticos mais potentes 261

O panorama das drogas está a mudar na Europa, com substâncias sintéticas opiáceas mais potentes, novas misturas de produtos e mudanças nos padrões de consumo, revelam dados do relatório europeu sobre drogas.  A canábis continua a ser o estupefaciente mais consumido e a cocaína aparece em segundo lugar.

Estas mudanças estão a provocar uma ameaça crescente e a aumentar os problemas de saúde pública, conclui o “Relatório Europeu Sobre Drogas 2024 – Tendências e Desenvolvimentos”, hoje divulgado em Lisboa pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em inglês), citado pela Lusa.

O documento, que apresenta dados do ano anterior dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE), Turquia e Noruega, sublinha que os consumidores estão mais expostos a “uma gama mais vasta” de substâncias psicoativas, “muitas vezes de elevada potência ou pureza, ou em novas formas, misturas e combinações”.

“Com produtos mal vendidos (muitas vezes pela Internet e com substâncias adulteradas), os consumidores podem não ter a consciência do que estão a consumir e ficarem sujeitos a maiores riscos para a saúde, incluindo envenenamento potencialmente fatal”.

 

Opiáceos sintéticos

O relatório destaca preocupações em torno dos opiáceos sintéticos potentes, por vezes vendidos indevidamente ou misturados com medicamentos e outras drogas, assim como MDMA (ecstasy) adulterado com catinonas (estimulantes) sintéticas e produtos de canábis adulterados com canabinóides sintéticos.

No final de 2023, o EMCDDA monitorizava mais de 950 novas substâncias psicoativas, 26 das quais notificadas pela primeira vez na Europa nesse ano.

Uma mensagem do relatório deste ano vai para os policonsumos: duas ou mais substâncias psicoativas ao mesmo tempo ou em sequência, muitas vezes misturada com álcool.

O problema crescente dos opiáceos na Europa aparece com uma “ameaça emergente” denominada nitazenos (opioide sintético 40 vezes mais forte do que o fentanil e 140 vezes mais poderoso do que a morfina), que se expandiu por todo o mundo e que terá causado nos últimos quatro anos mais de 200 mortes.

Desde 2009, surgiram no mercado europeu de droga 81 novos opiáceos sintéticos, altamente potentes e com um enorme risco de envenenamento e morte por overdose.

 

Heroína

Continua a ser o opiáceo ilícito mais consumido na Europa e responsável por “parte significativa” dos problemas de saúde.

A heroína e outros opiáceos sintéticos foram usados por 860 mil consumidores de alto risco, que o relatório não especifica que idades abrange.

Em 2022, 513 mil utilizadores estiveram em tratamento de substituição opiácea, sendo esta a droga que representa cerca de 24% dos pedidos de tratamento na União Europeia (UE). A mesma droga é encontrada em 74% dos casos de morte por overdose.

 

Canábis

Continua a ser o estupefaciente mais consumido na Europa, tendo no último ano sido usada por 22,8 milhões de pessoas (8%), com idades entre os 15 e os 64 anos, número que aumenta para 85,4 milhões de pessoas ao longo da vida.

Mas o panorama “está a mudar e a criar novos desafios para as políticas” dos Estados-membros.

O teor médio de THC (grau de potência) da resina de canábis duplicou nos últimos dez anos e continua a aumentar (22,8% em 2022), enquanto o da canábis herbácea (erva) tem permanecido geralmente estável, adianta o relatório.

Os produtos de canábis são agora cada vez mais diversificados, incluindo extratos e produtos comestíveis de alta potência, havendo relatos de que alguns destes vendidos no mercado ilícito como canábis podem estar adulterados com canabinóides sintéticos potentes.

Em 2023, o Sistema de Alerta Rápido da UE recebeu relatórios sobre nove novos canabinóides, quatro dos quais eram semissintéticos.

 

Cocaína

A segunda droga ilícita mais consumida, foi usada no último ano por quatro milhões (1,4%) pelo mesmo grupo etário, aumentando para 15,4 milhões (5,4%) ao longo da vida.

Os dados disponíveis sugerem que a droga também esteve presente em cerca de um quinto das mortes por overdose comunicadas em 2022, muitas vezes detetadas juntamente com outras substâncias.

Particularmente preocupante é o facto de o seu consumo parecer estar a tornar-se cada vez mais comum em grupos mais vulneráveis ou marginalizados em alguns países, tanto da forma injetada como o consumo de ‘crack’ de rua (chamado cocaína dos pobres).

Estimulantes como a cocaína têm também estado envolvidos em surtos localizados de VIH entre consumidores de drogas injetáveis, em diversas cidades europeias ao longo da última década.

 

Ecstasy

No que se refere aos comprimidos de MDMA (ecstasy), os números apontam para 2,9 milhões (1%) na casa dos 15 aos 65 anos, subindo para 12,3 milhões (4,3%) que responderam sobre consumos ao longo da vida.

 

Anfetaminas

Foram usadas no último ano por 2,3 milhões (0,8%) de adultos entre os 15 e os 64 anos, subindo para 10,3 milhões (3,6%) ao longo da vida.

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