Remoção de impurezas de droga caseira pode levar à criação de fármacos para dor 947

Remoção de impurezas de droga caseira pode levar à criação de fármacos para dor

 


30 de março de 2017

Investigadores do Porto iniciaram um estudo para provar que ao remover as impurezas presentes na droga krokodil, produzida em casa com medicamentos e produtos de limpeza, é possível criar fármacos para controlo e alívio da dor moderada e severa.

Ao purificar a droga krokodil, uma substância «corrosiva, cáustica e muito aditiva», esta pode atuar no tratamento da dor de múltipla natureza, como é o caso do enfarte agudo do miocárdio, doentes com cancro em fase terminal, situações de queimadura ou pós-operatório, explicou à “Lusa” o investigador da Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário (CESPU), Ricardo Dinis-Oliveira.

Os efeitos nefastos da krokodil são considerados «mais fortes e rápidos» do que os associados à heroína, levando ao aparecimento de úlceras, necroses (degeneração de um tecido pela morte das suas células), flebites (inflamações nas paredes das veias), gangrena, alterações na pressão sanguínea e na funções cardíaca, renal e hepática, lesões neurológicas (como alucinações, perda das capacidades cognitivas e da memória) e amputação dos membros dos utilizadores.

Segundo indica o toxicologista, a ideia de estudar os possíveis efeitos benéficos desta substância surgiu a partir de uma primeira linha de investigação, resultante de uma parceira entre a CESPU e as faculdades de Farmácia e de Medicina da Universidade do Porto.

Esse primeiro estudo visava compreender melhor a droga, «que se está a alastrar pela Europa» e é a «mistura estupefaciente mais tóxica de que se tem conhecimento”, resultando na criação de métodos para a deteção da substância no sangue, na urina e nos órgãos dos utilizadores.

Após explorarem em detalhe a composição química do krokodil, os investigadores depararam com várias substâncias que, pelo facto de serem semelhantes à morfina, «podem ser também excelentes ferramentas terapêuticas para a dor, sobretudo quando os tratamentos clássicos deixam de ter eficácia», explicou o também presidente da Associação Portuguesa de Ciências Forenses.

Durante a análise da composição dessa substância, a equipa percebeu assim que, se remover as suas impurezas, podem produzir um produto «muito mais puro» e com «um enorme poder analgésico».

«O que é também interessante é que vários dos compostos semelhantes à morfina detetados na droga são, até à data, totalmente desconhecidos, embora detenham uma grande potencialidade terapêutica», indicou.

Segundo Ricardo Dinis-Oliveira, esta descoberta pode revolucionar o conhecimento que se tem do tratamento da dor, aumentando as alternativas dos médicos para controlar esse sintoma.