Resistência de bactérias aos antibióticos e ao sistema imunitário está interligada 30 de Junho de 2016 Dois estudos do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) concluíram, numa experiência com células de ratinhos, que a resistência de bactérias aos antibióticos e ao sistema imunitário, que combatem infeções bacterianas, está interligada. Os investigadores Paulo Durão e Ricardo Ramiro, do Grupo de Biologia Evolutiva, coordenado pela cientista Isabel Gordo, descobriram que «a adaptação de bactérias ao sistema imune influencia o espetro de resistência a antibióticos», a ponto de as bactérias se tornarem «mais resistentes a alguns antibióticos, mas também mais sensíveis a outros», refere o IGC em comunicado. Os cientistas usaram, como modelo de bactéria, estirpes benéficas da E. coli, que habita no intestino, mas em que «muitas mutações» genéticas que lhe dão resistência a antibióticos «são muito parecidas às que aparecem em bactérias patogénicas», que causam doenças como a tuberculose, explicou à “Lusa” Paulo Durão. O investigador e outros colegas estudaram «a capacidade de bactérias resistentes a vários antibióticos de sobreviverem» na presença das células imunitárias que «respondem primeiro à infeção bacteriana», assinala a nota do IGC. Estas células chamam-se macrófagos e são capazes de reconhecer e matar microrganismos. O ponto de partida de Paulo Durão foi perceber como é que uma bactéria multirresistente a um antibiótico se comporta em contacto com os macrófagos. O cientista utilizou estirpes de E. coli com mutações genéticas que lhe dão resistência aos antibióticos rifampicina e estreptomicina, em culturas de macrófagos de ratinhos. Os investigadores «observaram que estas bactérias poderiam sobreviver melhor dentro dos macrófagos do que as bactérias não resistentes» aos dois antibióticos. Paulo Durão propõe-se, de futuro, confirmar a conclusão num modelo de ratinho in vivo e com uma bactéria má para o organismo. Ricardo Ramiro quis saber o que acontece quando as bactérias se tornam resistentes ao sistema imunitário. O investigador e outros elementos do mesmo laboratório “forçaram”, em experiências in vitro e in vivo com ratinhos, estirpes de E. coli a «evoluírem na presença de macrófagos», esclarece o IGC, acrescentando que as bactérias se tornaram, por isso, «capazes de sobreviver melhor dentro dessas células». Como consequência, as bactérias, «inicialmente sem qualquer resistência a antibióticos, tornaram-se mais resistentes a uma classe específica de antibióticos, os aminoglicósidos, e mais sensíveis a outras classes de antibióticos», nomeadamente as tetraciclinas. No caso de as bactérias serem mais sensíveis a antibióticos, tal significa que serão mais facilmente mortas por estes medicamentos. Ricardo Ramiro explicou à “Lusa” que o grupo observou que a população de bactérias E. coli diminuiu em ratinhos tratados com antibióticos para os quais essas bactérias eram mais sensíveis e, em contrapartida, aumentou quando os roedores receberam antibióticos para os quais as estirpes de E. coli eram mais resistentes. Para o investigador, o estudo pode dar pistas para se «tentar perceber qual é o antibiótico que funciona melhor, para tratar uma determinada infeção» bacteriana, atendendo ao aumento da resistência das bactérias aos antibióticos. O próximo passo será ver como bactérias patogénicas, como as que provocam infeções pulmonares e urinárias, interagem com o sistema imunitário. Os resultados das investigações foram publicados nas revistas científicas Antimicrobial Agents and Chemotherapy e Evolutionary Applications. |