Resistência de microrganismos aos antibióticos diminuiu em três anos 411

Resistência de microrganismos aos antibióticos diminuiu em três anos

15 de Março de 2016

As taxas de resistência de alguns microrganismos multirresistentes diminuíram entre 2011 e 2014, a par de uma redução do consumo de antibióticos, mas ainda assim continuam elevadas, em alguns casos acima da média europeia, segundo um relatório hoje apresentado.

O aumento da resistência aos antibióticos constitui um «perigo para a saúde mundial», que tem levado as autoridades de saúde a envidarem esforços para as boas práticas médicas e hospitalares, no sentido de prevenir infeções mais frequentes, revela o relatório “Portugal-Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos 2015”, da Direção-Geral da Saúde.

Em consequência dessas medidas, registaram-se «evoluções positivas no consumo de antimicrobianos, principalmente na classe das quinolonas (um dos medicamentos relativamente ao qual o número de bactérias resistentes tem aumentado), cujo consumo desceu, entre 2011 e 2014, 27% no ambulatório e mais de 8% a nível hospitalar», citou a “Lusa”.

A situação mais preocupante é a da resistência elevada da bactéria Escherichia coli (responsável pela maior parte das infeções urinárias) aos antibióticos da classe das quinolonas.

Igualmente tem-se registado uma inversão da tendência crescente no consumo de carbapenemos (antibióticos de largo espectro utilizado em algumas infeções graves por agentes multirresistentes), que diminuiu 5% entre 2013 e 2014.

Em 2011, Portugal era o país da Europa que mais usava carbapenemos. Em 2014, apesar da redução de 5%, o seu consumo ainda era 2,3 vezes superior à média europeia, refere o documento, que destaca que, apesar de dever ser a «última alternativa terapêutica», se tem verificado um «uso excessivo em alguns hospitais».

O relatório salienta que «a principal ameaça» é constituída pelo microrganismo Klebsiella pneumoniae resistente aos antibióticos da classe dos carbapenemos, já presente em todo o mundo.

«Registaram-se surtos hospitalares de infeção por esta bactéria, pontuais e localizados, tendo sido implementadas medidas de contenção da sua disseminação», revela.

Ainda no período entre 2011 e 2014, verificou-se também redução das taxas de resistência em alguns microrganismos multirresistentes, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina, Enterococcus ou Acinetobacter, mas que ainda assim se mantêm elevadas, «considerando-se fundamental a sua redução», um dos principais objetivos do programa.

O relatório lembra que apesar de os antibióticos serem indispensáveis para a medicina, têm que ser «criteriosamente utilizados», pois, ao contrário do que acontece com outros medicamentos, o seu uso sistemático tende a torná-los menos eficazes, quer para a pessoa tratar, quer para a comunidade envolvente.

«Embora o aparecimento de resistências seja uma consequência natural da utilização destes fármacos, o seu uso desregrado tem acelerado e agravado essa tendência, ao ponto de terem emergido estirpes microbianas resistentes à generalidade dos antibióticos habitualmente usados», sublinha.

Simultaneamente, tem-se verificado um decréscimo acentuado da descoberta de novas classes de antimicrobianos, o que dificulta ainda mais o tratamento de algumas infeções.

Os autores do estudo alertam ainda para o «prolongamento inapropriado da administração de antibiótico no pós-operatório em doente sem infeção – ocorrência prevalente em 2014 –, o que não melhora o prognóstico e ainda aumenta o risco de infeção por agentes multirresistentes no doente operado.

Este é um dos principais desvios das boas práticas verificado na utilização de antibióticos nos hospitais portugueses, «não sendo justificável a sua persistência», consideram os especialistas.