Já terminou a edição de 2024 do Rethinking Pharma, que decorreu no dia 6 de junho, no Lagoas Park, em Oeiras. Mais uma vez iniciativa da PHARMAPLANET em parceria com a revista MARKETING FARMACÊUTICO, aquela que é há muito considerada a reunião magna da Indústria Farmacêutica, em Portugal, não desiludiu os presentes que encheram o Centro de Congressos, afinal cumpriu o seu mote: “Fast Forward”.
E foi de olhos postos no horizonte veloz que o dia arrancou com um vespertino pequeno-almoço no barco da Talent Fishing Trip, comandado por Susana Coerver, partner na Ideators.cc e cofundadora da Kindology. Consigo estiveram três jovens alunos finalistas, Marco Teixeira (Ciências Farmacêuticas, na FFUL), Mariana Manata (Ciências da Nutrição, na FMUL) e Tiago Vicente (Publicidade e Marketing, na ESCS).
Perante a executiva plateia, o trio que exemplifica o futuro das empresas teceu considerações sobre as mesmas, o futuro e aquilo que gostam e gostariam de ver. E se Susana Coerver falou da necessidade de uma “estrutura mais horizontal” nas empresas, os estudantes corroboraram esta perspetiva em várias ocasiões.
Se Marco Teixeira identificou como boa memória um estágio de apenas um mês em que se sentiu completamente “integrado” e “fidelizado”, indo ao encontro do termo que Susana Coerver prefere ao invés de “reter”, Mariana Manata destacou que espera encontrar “programas de trainee que passem por mais áreas de interesse, para que empresa e trabalhador se conheçam mutuamente”. Na mesma linha, Tiago Vicente destacou que é na primeira impressão, muitas vezes desvalorizada, que os empregadores devem conquistar “o estudante ou o estagiário, que naquela altura se sente ótimo e extremamente motivado”.
IA, a penicilina do nosso tempo
Depois de Miguel Silva, responsável da PHARMAPLANET, e Paulo Silva, diretor da MARKETING FARMACÊUTICO, darem oficialmente as boas-vindas ao futuro bem presente que marcaria o dia, entrou em cena Ricardo Baptista Leite. Médico e deputado em diversos mandatos à Assembleia da República, está agora ligado à Inteligência Artificial (IA) relativamente à Saúde sendo, além de fundador e presidente da rede de parlamentares UNITE, CEO da organização HealthAI.
Começando por dizer que a forma como a IA vai afetar a Saúde “apenas é comparável à introdução da penicilina no século XX”, defendeu que os atuais sistemas de saúde estão “sobrecarregados” e “reativos”, baseados num modelo esgotado que prioriza “mais consultas, cirurgias e exames” como KPI’s da prestação de serviços. Defendendo que “medir resultados (mas os certos) melhora logo a performance, ainda mais se juntarmos a isto incentivos financeiros”, destacou que existe “medo” da IA. No entanto, isto não pode impedir o mundo de “compreender e abarcar a tecnologia”, até porque esta “pode ser o grande equalizador do nosso tempo, mas também motivo de afastamento, pelo que a equidade é fundamental”.
“Estamos a formar profissionais para serem robôs e assim os robôs vão ganhar a guerra”, rematou, acrescentando que a IA “pode ajudar os profissionais a serem mais humanos” e à maior existência de humanidade nos sistemas de saúde, para que depois homem e inteligência artificial “trabalhem em harmonia”.
“Mas, se não abordarmos a questão do risco, não desenvolvermos a confiança. Dentro das vossas empresas e contexto de trabalho, muitos consultores vão tentar vender IA. Não pensem em como vão integrá-la no modelo que têm, mas como é que pode ajudar a desenhar o seu futuro”, aconselhou.
“Cluster farmacêutico é essencial para Portugal”
“Novos Modelos de Negócio: Há futuro para a IF em Portugal?” foi a pergunta à qual Daniel Guedelha, Strategic Advisor to Global Pharmaceutical Industry, tentou responder. A residir em Basileia, Suíça, há mais de década e meia, o expert que passou por toda a cadeia de comando da IF até comparou o PIB da “Coimbra” helvética ao português, destacando como a até pequena cidade se desenvolveu para ser um grande hub mundial da área.
Assumindo que o “cluster farmacêutico é essencial para Portugal”, Daniel Guedelha é mais um talento luso na diáspora, algo que, segundo o próprio, não é um mal por si só. Ou seja, a saída de qualificados portugueses para o mundo é uma oportunidade, desde que saibamos “trazer algum de volta, mas aproveitar todo o seu conhecimento”. “Temos de alimentar estas redes, esse é um dos caminhos. Quem está lá fora não é melhor do que quem fica, são igualmente bons”, garantiu.
Advertiu que em Portugal é necessário acabar com as “quintinhas” e “partir os muros artificiais” que muitas vezes se constroem no contexto nacional da indústria farmacêutica. Referiu ainda que, para lá do que se faz em solo luso a nível de marketing e vendas, há um gap para I&D e Manufacturing e que existe mercado no planeta além dos clássicos Europa e América do Norte.
Os filmes do bom marketing
Já depois do almoço, Vera Paulino, Managing Partner na YouthTribe, teve a seu cargo um festival de marketing, em que foram apresentadas campanhas da Canesten, Durex e Sanofi.
Enquanto o brasileiro Rafael Masunari, Senior Brand Manager da Sanofi naquele país, entrou em modo vídeo para lá do Atlântico com declarações sobre uma forte campanha que girou em torno de streamers de gaming… mas principalmente das suas mães (sim, leu bem!), Beatriz Baldaque, da Bayer Portugal e Senior Brand Manager da Canesten abordou o tão polémico, mas de acordo com a mesma de muito sucesso, golpe de marketing digital sobre o “cheiro a peixe lá em baixo” nas mulheres.
A “campanha disruptiva” sobre a Vaginose Bacteriana foi primeiro justificada a nível léxico, dado que “odor a peixe vem na literatura” científica. “Como líderes de mercado, quisemos aumentar o awareness e alertar as consumidoras para tratarem estas infeções sem vergonha”, disse.
Já Tânia Sequeira, Senior Brand Manager da Durex Portugal, explicou o projeto Durexplica, presente no TikTok e Instagram, destacando inicialmente o facto de as infeções sexualmente transmitidas em Portugal terem crescido para lá da média europeia, com o país nos primeiros lugares de maus rankings a nível de saúde.
Com o propósito de educar e responder às dúvidas dos jovens, esta “plataforma credível foi lançada com personalidades que dão essa mesma credibilidade, ainda com associações importantes e movimentos LGBTQ+”. “Nas escolas a educação sexual é bastante deficitária”, frisou.
Para o final do evento ficou uma data, 5 de junho de 2025, dia do próximo Rethinking Pharma.