Helder Mota Filipe, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, deu esta semana uma entrevista à CNN em que abordou alguns dos temas mais prementes do universo farmacêutico, admitindo, entre outras situações, que podem efetivamente faltar medicamentos aos portugueses. Pede ainda que haja uma estratégia para evitar males maiores.
Dizendo que os problemas de rutura de medicamentos em Portugal é também um “fenómeno europeu”, Helder Mota Filipe diz que “mais do que a ideia de quantos faltam, é importante ter a noção de que tem vindo a faltar cada vez mais”. No mesmo sentido do alerta, identifica a “falta de matéria-prima, problemas de distribuição e falta de sustentabilidade para manter os medicamentos nos mercados”.
Falando ainda do preço dos medicamentos, frisou: “Como se tornou mais caro produzir medicamentos e transportar medicamentos, os preços a que os medicamentos são vendidos em Portugal podem não compensar este aumento de custo na produção. Isto faz com que os fabricantes retirem os medicamentos do mercado”.
Recordado sobre o facto de terem sido aumentados os preços dos medicamentos em Portugal recentemente, o bastonário falou do “aumento dos custos de produção” e que a medida governamental tem de ser monitorizada para “ver se esta medida é no valor certo para responder às necessidades”. Explicou ainda que os aumentos são “numa percentagem relativamente baixa” e é “partilhado entre o Estado, que comparticipa o medicamento, e o utente”.
E risco de os doentes ficarem sem alguns dos medicamentos necessários? Helder Mota Filipe admitiu que “pode haver esse risco”: ” Há o risco de os doentes ficarem sem aquele medicamento que lhes foi prescrito. Não vale a pena dizer que não”.
Sobre o que é urgente mudar em relação aos farmacêuticos, o bastonário referiu a carreira farmacêutica resultante da mais recente legislação. Referindo que tudo o resto está “inquinado”, destacou que se está a funcionar de forma “adequada naquilo que tem a ver com a implementação da residência”.
Contudo, identifica um problema: “Se um hospital do SNS quiser contratar um farmacêutico, agora não pode, porque a nova legislação se esqueceu de criar condições para que os farmacêuticos possam entrar na carreira sem ser através do internato da residência, que demorará quatro anos. Só a partir dessa altura, segundo a legislação, é que se permite que entrem na carreira. Isto não é compatível com as necessidades do próprio SNS”.
Destacou ainda que faltam cerca de 300 farmacêuticos no SNS, de acordo com a perceção da Ordem.