São João inicia técnica terapêutica não invasiva para patologias psiquiátricas 402

O Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, iniciou uma nova técnica terapêutica para patologias psiquiátricas, entre as quais a depressão resistente, uma doença “frequente e pandémica” com “números muito elevados”, foi revelado esta segunda-feira.

“O nosso objetivo é ter todas as armas terapêuticas que existem no mundo validadas e autorizadas. Isto também é um sinal de um certo desespero porque a depressão resistente é frequente e é pandémica. Os números são muito elevados. As depressões cada vez são mais resistentes aos fármacos atuais”, disse o diretor do serviço de Psiquiatria do CHUSJ.

A nova técnica – que já é usada em outros hospitais e está validada internacionalmente desde 2004 – chama-se Estimulação Magnética Transcraniana (EMT).

Em causa está um procedimento de neuromodulação não invasiva, que consiste na aplicação de campos magnéticos pulsados capazes de gerar correntes elétricas de baixa intensidade no cérebro.

Depressão grave e perturbação obsessiva-compulsiva (POC) estão entre as patologias identificadas nesta fase inicial da terapêutica.

Em declarações à agência Lusa, o diretor Miguel Bragança explicou que o recurso a esta técnica era algo “ambicionado” pelo serviço, ao qual “faltava a penas o aparelho agora adquirido”.

“Num serviço de psiquiatria como o nosso, que é de um hospital central e universitário, fazia todo o sentido. Estamos a terminar um ciclo que foi iniciado há dois anos. Temos toda a farmacologia disponível, adquirimos um aparelho novo para terapia pela convulsão, temos a EMT e vamos ter tratamento por quetamina [um anestésico que dá uma certa levitação ao doente] auxiliada por psicoterapia”, avançou.

Sobre o tratamento por quetamina auxiliada por psicoterapia, Miguel Bragança disse que “em breve” poderá ser usado no CHUSJ pois está “em fase final de aprovação”, o que já motivou a deslocação de um profissional desta unidade hospitalar à Alemanha para “treinar” a técnica.

As estatísticas apontam que no tratamento das depressões, a depressão resistente estabelece-se entre os 7% a 15%.

Quanto à POC, no CHUSJ existe uma consulta diferenciada com quase 300 doentes.

À Lusa, Miguel Bragança alertou para “os riscos inerentes enormes de ideação e suicídio, inabilitação laboral e conjugal”, entre outros, associados a estas patologias psiquiátricas.

“Há um grande impacto em todas as esferas da vida do indivíduo”, resumiu.

Salvaguardando que a EMT será apenas utilizada em casos graves de patologia psiquiátrica, sendo por isso um tratamento de segunda linha, o clínico estimou que “em velocidade de cruzeiro” o CHUSJ possa aplicar este tratamento a seis doentes por dia, ou seja cinco a seis doentes por mês.

Para já foram submetidos a sessões de vinte minutos, ao longo de seis semanas, quatro doentes.

O tratamento consiste na aplicação de uma pequena bobine que aplica campos magnéticos sobre o couro cabeludo, nas zonas correspondentes a áreas do córtex cerebral envolvidas nas patologias mencionadas.

Através da EMT, é possível estimular ou inibir regiões específicas do cérebro, “de forma segura, bem tolerada e sem impacto na cognição”.

Durante o tratamento, a pessoa encontra-se consciente, não havendo necessidade de utilização de anestésicos.

Para receber este tratamento, os utentes são inicialmente encaminhados pelo seu médico psiquiatra e passam depois por uma avaliação prévia, para determinar a sua elegibilidade.