A bastonária da Ordem dos Farmacêuticos (OF), Ana Paula Martins, foi a escolhida para encerrar a Convenção Nacional da Saúde, que teve lugar ontem, dia 19 de junho, no Centro de Congressos de Lisboa.
No seu discurso, Ana Paula Martins, referiu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) apresenta “sinais de cansaço” e avisa que os portugueses “não podem ter listas de espera de anos” por consultas ou cirurgias, nem ter “enormes falhas de medicamentos”.
“Os portugueses não podem ter listas de espera de anos por uma primeira consulta da especialidade ou cirurgia, não podem ter as enormes falhas de medicamentos que têm atualmente na nossa rede de farmácias, não podem esperar eternidades por tratamentos inovadores que podem fazer a diferença, não podem continuar a não ter cuidados continuados e paliativos para si e para os seus quando necessitam, que não só gera sofrimento e desesperança, mas sobrecarrega desnecessariamente as famílias e os cuidadores, exaustos e perdidos num sistema que não é amigo do cidadão”, afirmou.
A bastonária sublinhou ainda que o SNS é um “sistema que não é amigo do cidadão” e que “dá sinais de cansaço depois de anos seguidos de resiliência e resistência dos profissionais, redução de horários de trabalho sem os consequentes planos de reorganização e incentivo à produtividade, sem a renovação das infraestruturas, sem autonomia na gestão, com falta de investimento planeado, sem reforço do capital humano ou aposta séria na prevenção”.
“Ao SNS é há muito tempo pedido que faça o possível e o impossível, que integre a inovação tecnológica e terapêutica sem financiamento adicional, que motive os profissionais sem sistemas de incentivo adequados e carreiras organizadas, que seja inclusivo e não deixe ninguém para trás, que seja porto de abrigo dos casos sociais, que assuma que o cidadão é o centro do sistema quando ao cidadão são vedadas as possibilidades de participação já constantes até na Lei”, declarou a bastonária dos Farmacêuticos.
“Não queremos um SNS para os pobres, porque isso seria o fim da universalidade, equidade e solidariedade como a conhecemos e idealizámos e marginalizaria no sistema os que, por via do rendimento, não podem exercer a sua liberdade de escolha. Não queremos ser geridos por preconceitos, conflitos de interesse, decisões pouco informadas, sem avaliar o que se faz de forma transparente seja público, privado ou social”, avançou Ana Paula Martins.
Num momento em que se discute a Lei de Bases da Saúde e antes de mais uma campanha eleitoral, a bastonária deixou um recado aos partidos políticos.
“O SNS e o Sistema de Saúde não podem ser uma fonte de problemas para os portugueses. Têm de ser a solução permanente, um factor de confiança nas nossas vidas, um vector de desenvolvimento e de captação de investimento, um orgulho para o país”, salientou.
“O sistema de saúde é complexo e não pode ser objecto de intervenções pouco pensadas, sujeitas a imediatismos eleitorais ou interesses conjunturais. Na saúde não chega fazer muito…tem que se fazer bem. E defender o interesse público, que não tem cor política nem é propriedade de uns ou outros. O bem comum faz parte da defesa intransigente de princípios fundamentais da democracia e realiza-se na atitude de cada um de nós. Todos somos responsáveis pelo bem de todos e temos, por isso mesmo, responsabilidades não apenas de identificar o que está mal, mas de apresentar soluções”, afirmou a bastonária da OF.
“Defender o interesse público não tem cor política nem é propriedade de uns ou outros”, sublinhou Ana Paula Martins.
A bastonária terminou por reafirmar o propósito de ser necessário “olhar para o futuro”.
“Reafirmamos nesta convenção que renovar o SNS é respeitar a sua identidade, os seus princípios, a sua história e a sua evolução. Não é um regresso ao passado, é olhar para o futuro, projetando-o com tudo o que aprendemos, e como podemos de forma universal, garantir saúde com qualidade a todos os portugueses.”, defendeu Ana Paula Martins.
A segunda edição da Convenção Nacional da Saúde teve como tema “A agenda da saúde para o cidadão” e nela participaram quase mil pessoas, entre as quais representantes de 150 associações de doentes.