SNS: Caos no sistema informático 17-Fev-2014 Os médicos garantem que as falhas constantes dos sistemas informáticos dos centros de saúde e hospitais em todo o país estão a prejudicar a assistência que está a ser dada aos doentes. E avisam que pode afetar a qualidade dos atos médicos e aumentar o risco de erro. «A situação é de tal forma grave que em Beja os profissionais tiveram de suspender as consultas programadas, recebendo apenas os doentes e receituário urgentes» – adiantou ao “Sol” o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, acrescentando que o cenário repete-se de Norte a Sul, tendo já sido comunicado ao ministro da Saúde. Em causa estão mais de 10 diferentes aplicações informáticas que os médicos têm de usar, muitas delas em simultâneo, durante as consultas: o PEM para receitar, o ALERT®P1 para encaminhar doentes para consultas hospitalares, o C.I.T. para emitir certificados de incapacidade temporária, o S.I.C.O. para lançar certificados de óbito, o BARCCU para registar doenças como o cancro do cólon útero e diabetes, o TOONET para aceder aos resultados de exames complementares de diagnóstico, o SAM para registar dados dos utentes, o sistema nacional de farmacovigilância, para reacções adversas, entre outros. O problema, explicam os médicos, não é a informatização dos serviços de saúde – que até elogiam –, mas a falta de capacidade do sistema e dos computadores do Serviço Nacional de Saúde para receber tantos dados. «Avançaram para estas aplicações, sem banda larga, sem rede e sem servidores suficientes. Por isso, nenhuma aplicação funciona bem. Quando se abre uma, demora horas ou bloqueia. Além disso, para fazer várias coisas, tem de se sair de um sistema para entrar noutro e isso torna-se impossível» – descreve Pedro Vasconcelos, presidente do Conselho Distrital de Beja da Ordem dos Médicos, explicando que as consultas passaram a demorar muito mais tempo, desviando os médicos da principal função. «Enquanto isso, lá fora aumentava o número de doentes à espera».
«Enerva e distrai os médicos»
Além de perderem, em média, 60 minutos por dia com estas falhas do sistema informático, os profissionais sentem-se afetados psicologicamente. «É uma situação complicada porque enerva, cria ansiedade e distrai os médicos do que é importante. E isso pode diminuir a qualidade e aumentar a probabilidade de erro», admite Pedro Vasconcelos. Para evitar casos mais graves, os médicos de Beja suspenderam as consultas programadas, tendo, entretanto, retomado a atividade na semana passada, após a tutela ter autorizado que todos os registos voltem a ser feitos à mão. «Só voltamos a fazer no computador quando houver condições», avisa aquele responsável. O bastonário, por seu lado, garante que Beja não é o único caso grave. «Temos recebido alertas de todo o país», revela, acrescentando que a situação piorou depois da instalação, nos últimos meses, do sistema de prescrição PEM. A maioria das queixas dos hospitais prendem-se com o Alert, através do qual os médicos pedem exames e internam doentes da urgência. Mas, se precisarem de passar uma receita, têm de abrir o programa SClinic. «Aí, temos de assumir esse mesmo doente pelo SClinic e passar as receitas através deste porque o ALERT permite, efetivamente, fazer prescrições, mas a atualização do formato das receitas neste programa não foi feita», explica José Manuel Silva. Outra das queixas relaciona-se com a emissão de certificados de incapacidade: o SClinic tem para cada doente um link directo para o portal C.I.T., que não funciona. Caso o Ministério da Saúde não resolva a situação, muitos outros locais vai entrar em rutura, garante o bastonário: «O Ministério prepara-se para avançar com outro programa informático para produtos de apoio técnico, como bengalas e próteses. Se isso acontecer, vai ser o caos total». |