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SNS: Idas às urgências são o dobro das primeiras consultas

14 de Outubro de 2015

Apesar da crise e do grande aumento das taxas moderadora, os portugueses continuam a recorrer com muita frequência às urgências dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde, conclui o estudo Desempenho clínico dos hospitais do SNS em 2008 e 2014, divulgado hoje no Portal da Saúde.

 

Nos últimos 7 anos, os atendimentos em serviços de urgência hospitalares diminuíram apenas 0,3%. São cerca de 17 mil episódios de urgência por dia, quase o dobro das primeiras consultas e o equivalente a 53% das consultas externas, revela o estudo, citado pelo “Público”.

 

Elaborado pela consultora multinacional de origem espanhola Iasist a pedido do Ministério da Saúde (MS), o estudo passa em revista a evolução, de 2008 para 2014, de vários indicadores da atividade de 45 hospitais públicos, incluindo os quatro construídos em parceria público-privada (Loures, Vila Franca de Xira, Braga e Cascais), além das duas unidades de saúde mental (Júlio de Matos e Magalhães Lemos) e dos três institutos de oncologia (IPO).

 

«Tendo em conta que Portugal apresenta o dobro das urgências de países como o Reino Unido (National Audit Office, 2013), estes são números manifestamente exagerados e bem reveladores da magnitude do problema das urgências», destacam os autores do relatório, enquanto lembram que, em 2014, invertendo uma tendência de vários anos, as urgências até cresceram 1% em Portugal.

 

«O ideal teria sido analisar uma série temporal e não apenas os anos de 2008, 2013 e 2014», como é feito neste estudo, admite o diretor-geral da Iasist em Portugal, o antigo presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Manuel Delgado, para quem o facto de não haver «alterações significativas» na procura dos serviços de urgência vem comprovar que o modelo do SNS «não foi mexido no essencial». Basta ver que quase dois terços (70%)  das admissões para internamento nos hospitais ainda se fazem pela via da urgência.

 

Os hospitais de maiores dimensões, os centrais, são uma exceção a este nível. Mas, mesmo face à redução na procura das urgências aqui observada, os consultores são cautelosos: este «sinal positivo deve ser acompanhado com atenção em futuras avaliações, para perceber se se tratou ou não de uma mera evolução conjuntural».

 

De resto, nestes anos de crise, os hospitais públicos demonstraram «uma evidente resiliência no seu funcionamento e na sua organização», independentemente das maiores ou menores dificuldades de acesso dos cidadãos, concluem os autores do relatório, avisando que a variável do acesso «não cabia» nesta análise de desempenho. «Esta é uma fotografia tirada do avião, não olhamos para pormenores, analisamos o que os hospitais fizeram, não o potencial de procura», esclarece, a propósito, Manuel Delgado.