Sociedade de Reumatologia quer programa nacional para reduzir fardo destas doenças 423

A Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR) alertou esta terça-feira (23) para a urgência de criar um Programa Nacional para reduzir o fardo das doenças reumáticas, uma das primeiras causas de reforma antecipada em Portugal.

O presidente da SPR, António Vilar, citado em comunicado a que a Lusa teve acesso, recorda que a incapacidade associada às doenças reumáticas musculoesqueléticas “aumentou 45% nos últimos 20 anos, sobretudo devido à osteoporose e também ao aumento da obesidade, do sedentarismo e envelhecimento da população portuguesa”.

O especialista identifica quatro grandes desafios a que diz ser urgente dar resposta através de um Programa Nacional para as Doenças Reumáticas Musculoesqueléticas, lembrando que estas doenças são “a primeira causa de sofrimento humano e o primeiro motivo de consulta nos maiores de 50 anos nos cuidados primários de saúde”.

A necessidade de aumentar os esforços na promoção de estilos de vida saudáveis e de prevenção, “com um programa transversal entre o existente para as doenças reumáticas musculoesqueléticas e os programas prioritários de estilo de vida do plano Nacional de Saúde”, é um dos desafios apontados.

A este – acrescenta – junta-se a necessidade de “um diagnóstico precoce e tratamento adequado das doenças reumáticas musculoesqueléticas, garantindo equidade e acessibilidade dos cidadãos”, assim como a integração dos cuidados de saúde primários, hospitalares e continuados, “com equipas multidisciplinares para tratar as doenças mais frequentes, como a lombalgia, a osteoartrose, a osteoporose e a patologia periarticular”.

O presidente da SPR alerta ainda para a urgência de “uma prevenção abrangente, com menos acidentes na rua e em casa”, medidas que ajudariam a reduzir o impacto económico das doenças reumáticas musculoesqueléticas.

Em Portugal, sublinha, este impacto “é significativo, quer nos custos diretos, quer indiretos, causando cerca de 50% das reformas antecipadas no nosso país.”

Tendo em conta os dados do maior estudo epidemiológico nacional, que deu origem a um Registo Nacional, “foi identificada uma doença reumática em mais de metade dos portugueses, que apresentam uma qualidade de vida inferior à da população sem estas patologias e mais problemas de saúde mental”.

E a pandemia, garante o especialista, “pelo confinamento e sedentarismo, vai certamente agravar esta situação”.

António Vilar destaca igualmente a artrite reumatoide, considerada “a rainha das doenças inflamatórias crónicas articulares”, pela sua expressão: 50.000 a 70.000 doentes em Portugal, 2,5 milhões nos Estados Unidos e 40 milhões estimados no mundo.

Esta doença é igualmente responsável por “reformas antecipadas, incapacidade temporária prolongada, redução da esperança média de vida e sofrimento”.

“Parafraseando Churchill, ‘nenhuma doença faz sofrer tanto, tanta gente, durante tanto tempo’”, acrescenta.

António Vilar diz que não faltam especialistas: “Temos gerações altamente qualificadas de reumatologistas, somos quase 200, dos quais 50 em formação, temos o único centro de excelência reumatológica da Península Ibérica, o maior rácio por especialidade de doutorados e o maior Registo Nacional de doentes”.

No entanto, frisa, apesar da cobertura nacional existente, há ainda vastas áreas do País sem reumatologistas, como o Alentejo, tal como acontece no 2.º maior concelho em população do País (Sintra). Aponta também a falta de reumatologistas em hospitais como o Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra), Santo António (Porto), Matosinhos ou Famalicão.

No ano passado, a Ordem dos Médicos, na posição que divulgou sobre o Plano Nacional de Saúde (PNS) 2021-2030, considerou que o documento estava incompleto, apontando omissões nas áreas da doença renal crónica e das doenças reumáticas musculoesqueléticas.