“Spray” nasal de naloxona vai ajudar equipas de rua a combater “overdoses”
08 de junho de 2018 As equipas de rua que lidam com toxicodependentes em Portugal vão ter um “spray” nasal que serve como antídoto para “overdoses” com heroína ou outros opiáceos, afirmou hoje o diretor-geral do serviço de intervenção nas dependências. João Goulão, que falava à “Lusa” a propósito da divulgação do relatório anual do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, disse que espera ter um programa montado «nos próximos meses». O medicamento em causa, a naloxona, já foi autorizado pela Agência Europeia do Medicamento e está em licenciamento pelo INFARMED em Portugal. Esta espécie de antídoto que funciona exclusivamente para os opiáceos só existe por enquanto em forma injetável junto dos profissionais de saúde, mas disponibilizá-lo às equipas de rua poderá «salvar algumas vidas», considerou João Goulão, saudando que este mecanismo passe a estar «no teatro de operações». Em relação aos destaques do relatório, João Goulão salientou que o aumento de quantidade e pureza da cocaína a circular na Europa torna o seu consumo ainda menos seguro, uma vez que o «aparecimento inopinado» de produto mais puro «provoca acidentes no consumo». João Goulão assinalou ainda o aumento de produção de drogas no continente europeu, incluindo a canábis, cuja utilização para fins terapêuticos está em discussão em comissão parlamentar. «É positivo que a discussão separe o uso social do uso terapêutico», destacou. O Observatório aponta o aumento de produção na América Latina como uma das causas do crescimento do mercado da cocaína na Europa. No seu relatório anual, apresentado hoje em Bruxelas, a agência europeia aponta a cocaína como «o estimulante ilícito mais consumido na Europa», que 2,3 milhões de pessoas entre os 15 e os 34 anos usaram no último ano. O Observatório, sediado em Lisboa, assinala que houve pelo quarto ano consecutivo um aumento de mortes por “overdose”, especialmente com opiáceos, que ultrapassaram as 9.000, quase 3.000 só no Reino Unido, enquanto em Portugal houve apenas 26 registadas. Para travar este número crescente de “overdoses”, nas quais estão envolvidos derivados do fentanilo, o Observatório recomenda que haja mais disseminação de naloxona, bem como de formação para dar resposta a “overdoses”. |