Serviços farmacêuticos deveriam “ter um maior reconhecimento, com a possibilidade de serem prescritos pelos médicos” 748

No Dia Mundial da Adesão, que se comemorou, ontem, dia 27 de março, dados do inquérito ‘Adesão à Terapêutica, barreiras, consequências e soluções – a Visão dos Portugueses’ confirmam que embora 58,8% dos doentes crónicos cumpram as recomendações médicas, cerca de um quarto (24,8%) admite esquecer-se frequentemente da medicação, enquanto 16,4% acabaram por não a tomar. Uma realidade preocupante, que coloca muitos doentes em risco de desenvolver complicações.

Por outro lado, um relatório da PLOS Medicine, divulgado em 2020, sugere que a intervenção dos farmacêuticos pode reduzir em mais de 40% alguns problemas associados à prescrição de medicamentos.

Ao NETFARMA, Isabel Cortez, presidente da Associação de Farmácias de Portugal (AFP), sublinha que “as farmácias comunitárias desempenham um papel fundamental na promoção da adesão ao tratamento, especialmente em casos de doenças crónicas. Através de um acompanhamento próximo e de uma relação de confiança com os utentes, as farmácias podem não só informar e educar sobre a importância de seguir corretamente a medicação prescrita, mas também monitorizar a adesão ao tratamento, identificar possíveis dificuldades e oferecer apoio personalizado. Ajudam ainda a identificar e corrigir erros na toma da medicação, como dosagens incorretas ou alterações não comunicadas na prescrição”.

 

Serviços como a renovação da medicação crónica podem contribuir para uma maior adesão?

“Esse é um dos nossos principais desafios”, destaca Isabel Cortes, argumentando que “consideramos que é necessário criar canais de comunicação mais eficazes que nos permitam ter acesso a dados sobre consultas e prescrições médicas, para um acompanhamento mais eficaz. Ou seja, uma maior integração das farmácias no sistema”.

A proximidade e acessibilidade proporcionadas pelas farmácias comunitárias são “igualmente essenciais, uma vez que os horários flexíveis e o acompanhamento próximo facilitam o acesso aos medicamentos e ao apoio farmacêutico”. Por outro lado, Isabel Cortez realça que, a médio/longo prazo, “a melhoria da adesão permite uma redução do desperdício de medicamentos e de consultas desnecessárias, contribuindo para uma maior eficiência dos recursos do Serviço Nacional de Saúde”.

Deste modo, para a responsável, “os diversos serviços prestados pelas farmácias, como a medição de parâmetros (tensão arterial ou diabetes), administração de vacinas, Preparação Individualizada da Medicação (PIM) ou a promoção de programas de literacia em saúde, são também fortes contributos para um maior cumprimento dos tratamentos”.

 

Integração das farmácias no sistema de saúde

Tal como referido, um dos grandes desafios e um dos principais objetivos da AFP é “conquistar uma maior integração das farmácias no sistema de saúde que permita uma comunicação mais eficaz com os médicos, o que requer investimento em inovação tecnológica e uma mudança de mentalidades”.

Neste sentido, “defendemos que a prestação de alguns serviços farmacêuticos, como a reconciliação terapêutica e a preparação individualizada da medicação, deveria ter um maior reconhecimento, com a possibilidade de serem prescritos pelos médicos, de forma a valorizar o papel dos farmacêuticos na promoção da adesão ao tratamento”.