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Surto de legionella em Portugal é o mais mortífero do mundo

18 de novembro de 2014

O surto de legionella em Portugal já é o mais mortífero do mundo. As autoridades confirmaram que uma mulher de 89 anos, residente no Forte da Casa, se tornou a oitava vítima da bactéria, o que faz com que a mortalidade do surto de Vila Franca Xira ultrapasse a registada nos surtos do Japão e no Reino Unido. Estes dois surtos, considerados os maiores do mundo e que ocorreram em 2002, tinham ambos registado 7 mortos.

Segundo o “Sol”, apesar deste recorde em Portugal, a Direção-Geral da Saúde insiste que a «taxa de letalidade é baixa», 2,5% e até estima que o número de mortos irá crescer. As estimativas das autoridades de saúde, que construíram modelos matemáticos para prever a evolução da doença, apontam que o número de vítimas mortais possa chegar a dez.

Confirmados 15 novos casos, número de infetados sobe para 331

Quinze novas infeções por legionella foram reportadas desde as 15:00 de sexta-feira e as 13:00 de ontem, elevando para 331 o número de casos verificados desde o dia 07, informou a autoridade de saúde.
Num comunicado citado pela “Lusa”, a Direção-Geral da Saúde (DGS) refere que 322 infetados pela bactéria foram internados em Lisboa e Vale do Tejo, três no Norte, cinco no Centro e um no Algarve.

O novo balanço da DGS mantém os oito mortos reportados no domingo, tratando-se de seis homens e duas mulheres entre os 52 e os 89 anos.

Dos doentes internados em diferentes hospitais, 85 da região de Lisboa e Vale do Tejo já tiveram alta clínica, bem como um da região Norte e um do Algarve.

O comunicado assinala que as análises feitas pelo Instituto Ricardo Jorge, desde sexta-feira, «apontam para uma forte associação em relação aos dados provisórios que tinham sido previamente anunciados, nomeadamente no que respeita às amostras de água colhidas em torres de arrefecimento e ao agente bacteriano presente nas secreções brônquicas de doentes confirmados».

De acordo com a autoridade de saúde, «uma vez que o surto está, tudo indica, sob controlo, o próximo comunicado será emitido de acordo com a evolução epidemiológica da situação».

Investigadora – Problemas como o surto resultam de menor exigência do Estado

A investigadora Luísa Schmidt defendeu hoje que problemas ambientais como o surto de legionella de Vila Franca de Xira resultam da menor exigência da tutela nas monitorizações de poluentes, devido à falta de meios.

«Afinal as questões ambientais são as questões de saúde pública e ficou bem à vista com este caso como a duas coisas estão articuladas, ambiente e saúde, e como pode afetar tanto a nossa qualidade de vida e até causar estes problemas gravíssimos e dramáticos», afirmou a investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.

Em resposta ao pedido de comentário sobre o surto da bactéria legionella, que já causou oito mortos, Luísa Schmidt salientou que «são as consequências já da redução de exigência que o Ministério do Ambiente tem revelado porque está com muito menos poderes, está fragmentado, muitas pessoas saíram e, portanto, a monitorização não se está a fazer como deveria e as exigências às indústrias para monitorizar» a emissão de poluentes também não estão a ser como deveriam.

Luísa Schmidt falava à agência “Lusa” à margem da 1.ª Conferência Anual Rede Mar – Lisboa Azul, que decorre hoje em Lisboa, e reúne investigadores de várias entidades para debater o trabalho científico marinho realizado e as formas de procurar novos produtos, sem afetar a natureza.

A partir de certa dimensão, as indústrias têm de fazer a monitorização de um conjunto de indicadores, incluindo a legionella, e têm de enviar para o Ministério do Ambiente, para a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), muitos dos controlos devem realizar-se «em contínuo, diariamente», como o dióxido de carbono.

Mas, para aquela bactéria, «as análises não são em contínuo, mas trimestrais, tem de haver controlo trimestral sobre a legionella e isso, pelos vistos, em algumas indústrias tem falhado e o nível de exigência da Agência Portuguesa do Ambiente também», salientou.

Quanto às razões para esta situação, referiu, «a falta de força e a fragilização em que está o Ministério do Ambiente no seu conjunto, depois, a falta de meios», além da «sangria dos técnicos qualificados» das entidades da área ambiental.

Por outro lado, também «é suposto haver ações inspetivas e, portanto, era preciso reforçar o corpo de inspetores», acrescentou a investigadora.

Para Luísa Schmidt, muitas das tarefas do Estado até podem ser reduzidas ou recicladas, mas «há certas funções do Estado que não podem ser substituídas, [como a] fiscalização, monitorização e regulação e, efetivamente, em Portugal isso não se verifica e a área do Ambiente, diretamente ligada à qualidade de vida e à saúde, deveria dar muita força a estas três dimensões».

A questão da saúde pública «é central», para a especialista do ICS.

«Justamente porque estamos em crise, temos de ter cuidado porque o barato sai caro», disse, salientando que, «muitas vezes acontece com estas simplificações de gestão e menor exigência num processo, que neste caso era a monitorização da legionella, para poupar um pouco acabam por criar um enorme gasto público».