A LisbonPH organizou, ontem, o evento online “Sustentabilidade da Indústria Cosmética”. A sustentabilidade é uma questão cada vez mais premente na Indústria Cosmética e os desafios são muitos.
Logo para começar, destacam-se os desafios relacionados «com quem formula. Não há dúvida de que não é fácil formular produtos que os consumidores nos dias de hoje querem, usando apenas os conceitos de ingredientes definidos pelas guidelines que temos de cumprir porque, muitas vezes, um óleo essencial é natural e orgânico, mas depois tem um teor em limoneno, que é altamente alergizante, condicionando a sua utilização», referiu Helena Margarida Ribeiro, professora associada na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e investigadora na área da dermofarmácia e cosmética, dando outro exemplo: «os substitutos dos silicones também não são fáceis de arranjar», recordando que os silicones «foram proibidos não por fazerem mal às pessoas, mas por serem prejudiciais ao ambiente».
Outro das situações salientadas pela investigadora, que falava durante o evento online “Sustentabilidade da Indústria Cosmética”, organizado pela LisbonPH, que decorreu ontem, é que «há uma grande facilidade das marcas em comunicar determinadas alegações, que até são cumpridas da maneira como falam, mas induzem os consumidores em alguns erros».
Daí Helena Margarida Ribeiro defender que, «temos um caminho a percorrer entre o que se faz na bancada e o cumprimento das regras, pois na Cosmética há um conjunto de requisitos a cumprir, como regulamentos específicos ou ter sempre sustentação da prova quando comunicamos. Mas enquanto não estivermos todos na mesma onda, cumprindo tudo isto, haverá uma grande confusão de produtos no mercado».
Produção mais sustentável
Outro dos desafios da Indústria de Cosméticos é ao nível da produção, propriamente dita, havendo já várias estratégias que as empresas podem seguir para se tornarem mais sustentáveis. Joana Marto, professora assistente convidada na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e investigadora na área da dermofarmácia e cosmética, sublinhou «a utilização de energias renováveis, o reaproveitamento das águas e a diminuição dos resíduos industriais». Em termos dos materiais e das características das embalagens, ter em conta fatores «como reciclabilidade, reutilização e biodegradibilidade, e ainda, por exemplo, optar por plásticos à base de plantas».
O Ecolabel
A Indústria pode ainda procurar tornar os seus produtos aptos a receberem o Ecolabel. O Sistema de Rótulo Ecológico da União Europeia (EU Ecolabel), que segundo o referido no evento ainda não está muito difundido na Cosmética, trata-se de um instrumento de natureza voluntária que tem como finalidade reduzir o impacto negativo da produção e do consumo no ambiente, saúde, clima e recursos naturais, promovendo produtos com um nível elevado de desempenho ambiental. É aplicado a grupos de produtos (bens ou serviços) que respeitem um conjunto de requisitos determinados com base em provas científicas. «As certificações no âmbito do rótulo ecológico obrigam à apresentação de um dossier, sendo a base da certificação as avaliações dos estudos de ciclo de vida», especificou Carla Pinto, diretora de Serviços de Sustentabilidade Empresarial na Direção-Geral das Atividades Económicas (DGAE), a entidade competente para a atribuição de licenças de utilização do Ecolabel.
A responsável sublinhou, neste sentido, o conceito de pegada ecológica, que «a Comissão Europeia quer utilizar no âmbito das políticas públicas em matéria de produção e consumo sustentáveis e que está a testar no âmbito do rótulo ecológico».
Europa com menos substâncias tóxicas
As preocupações da Comissão Europeia deram ainda origem, como abordado durante o evento, à Estratégia para a Sustentabilidade dos Produtos Químicos, que pretende um ambiente livre de substâncias tóxicas. No documento foram introduzidos, como especificou Ana Catarina Gomes, técnica de supervisão do mercado de vigilância de produtos cosméticos do INFARMED, dois princípios novos: «evitar que os químicos tóxicos entrem nos produtos na fase de conceção, em vez de os controlar depois de entrarem no mercado e só autorizar o uso dos produtos químicos mais nocivos se for necessário para a saúde ou segurança ou se for essencial para o funcionamento da sociedade».