Técnica de terapia genética restaura visão em seis doentes 480

Técnica de terapia genética restaura visão em seis doentes

17-Jan-2014

Uma equipa de cirurgiões da Universidade de Oxford usou uma técnica de terapia genética para melhorar a visão de seis pacientes que, de outra maneira, teriam permanecido cegos, de acordo com um estudo divulgado ontem pela revista “The Lancet”.

Segundo o estudo, citado pela agência de notícias espanhola “EFE”, os doentes foram submetidos a uma cirurgia para pacientes que sofrem de uma doença hereditária rara, que causa a morte das células que detetam a luz, chamada coroideremia.

À “BBC”, o professor de oftalmologia da universidade de Oxford e responsável pela investigação, Robert McLaren, afirmou estar «absolutamente encantado» com o resultado do procedimento, salientando: «Realmente, não podíamos ter tido um melhor resultado».

Os exames médicos começaram há dois anos e o primeiro paciente foi Jonatham Wyatt, que tinha então 63 anos e estava progressivamente a perder a visão, mas depois de submetido à cirurgia, a sua visão melhorou, ao passo que outro doente disse que o tratamento tinha tido um «efeito imediato».

Se os pacientes continuarem a melhorar, os médicos pretendem alargar o procedimentos cirúrgico a outros doentes afetados por coroideremia, uma doença rara que afeta cerca de mil pessoas no Reino Unido, mas também poderá ser alargada a outras formas genéticas de cegueira, de acordo com o responsável médico pela investigação, citou a “Lusa”.

A coroideremia caracteriza-se pela perda progressiva da visão, é mais comum nos homens e resulta, na maior parte dos casos, de uma transmissão genética.

 

Investigador: Terapêutica que melhorou visão de doentes pode ser generalizada dentro de cinco anos

 

O investigador Miguel Seabra, que participou no estudo que permitiu melhorar a visão de seis doentes com coroideremia, no Reino Unido, acredita que a terapêutica poderá ser generalizada a pessoas com esta patologia dentro de cinco anos.

Em declarações à agência “Lusa”, Miguel Seabra, que liderou o estudo na fase de testes em laboratório, admitiu que a terapêutica pode ser «generalizada a todos os doentes» com coroideremia «num horizonte de cinco anos, se os resultados forem confirmados» em mais pacientes.

Miguel Seabra, investigador do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e atual presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, adiantou que uma nova fase do estudo, que poderá começar no próximo ano, irá alargar o universo de doentes a testar, nomeadamente noutros pontos da Europa e no Canadá.

O médico precisou que os «resultados promissores» do ensaio clínico conduzido no Reino Unido resultam de 20 anos de trabalho, que incluíram previamente testes em laboratório com ratinhos. Segundo o investigador, a terapia experimentada em seis doentes com coroideremia, e que agora está a ser testada com doses superiores, poderá ser alargada a outras patologias genéticas da retina que levam à cegueira, como retinites pigmentosas ou degeneração macular.

Miguel Seabra clarificou que não se trata de uma «terapêutica regenerativa», apenas «permite parar o processo degenerativo», pelo que deve ser aplicada o mais cedo possível, sendo que, nos casos estudados, «houve um aumento da função» das células da retina «que não estavam mortas, mas que não estavam a trabalhar bem».

O investigador assinalou que «as melhorias espetaculares» verificadas ocorreram em doentes com «uma degradação da visão maior».

A coroideremia é causada pela mutação de um gene chamado CHM, que provoca uma alteração na camada do tecido ocular entre a esclera (a zona branca do olho) e a retina (a parte colorida).