Tecnologia na Saúde: uma oportunidade e uma ameaça 1290

A discussão sobre a sustentabilidade dos sistemas de saúde tem estado na ordem do dia, em
particular em países cuja situação económica e orçamental é mais delicada – grupo no qual
Portugal se enquadra.

De facto, a despesa em saúde apresenta uma trajetória de crescimento que não parece dar sinais de abrandamento. Por exemplo, nos países da OCDE, a taxa de crescimento anual ronda os 3-4%.

Entre outros fatores, estima-se que mais de 40% dos aumentos anuais verificados estejam
relacionados com a utilização de tecnologia – aposta em novas tecnologias e/ou maior utilização
das tecnologias existentes.

Os benefícios da tecnologia, em particular no sector da saúde, são conhecidos por todos. De facto, muitos dos avanços conquistados em termos de esperança média de vida prendem-se com a difusão e implementação de novas e melhores tecnologias. Estas têm permitido um aumento da eficácia dos tratamentos e uma maior precisão e rapidez nos diagnósticos.

Adicionalmente, tal como nos restantes sectores de atividade, assistimos a um aumento de
eficiência nos processos administrativos das instituições, através de novas e inovadoras soluções.

Muitas destas soluções, como por exemplo o SNS sem papel, foram destacadas na Portugal
eHealth Summit, realizada no passado mês de março, em Lisboa.

Compreende-se, portanto, o deslumbramento e entusiasmo com as inovações tecnológicas.
Contudo, é importante ter em consideração que todas estas inovações têm custos associados. Se, para muitas situações, o valor acrescentado pela tecnologia supera os custos associados, existem outras em que o impacto marginal na saúde dos pacientes é baixo, quando comparado ao seu custo.

Trata-se de uma discussão delicada, uma vez que as expetativas em relação à utilização da
tecnologia são crescentes. Enquanto pacientes, todos nós pretendemos ter acesso aos melhores cuidados médicos possíveis (em particular tendo em conta que o custo direto dos mesmos é baixo – via SNS ou seguros). O mesmo se passa com os médicos, que foram treinados para usar estas tecnologias, e ambicionam por as mesmas ao serviço dos seus pacientes.

É uma discussão difícil de se ter quando nos deparamos com situações concretas. Como explicar a alguém que o tratamento que pode dar mais umas semanas de vida a um familiar é “demasiado” caro? Porém, os recursos não são infinitos e, por mais que queiramos, chegamos sempre a um ponto em que temos de priorizar aqueles que serão tratados e as tecnologias em que investiremos, sob pena de se chegar a uma situação financeiramente insustentável dos sistemas de saúde.

Apesar de não existirem soluções óbvias ou simples, diversas iniciativas têm sido implementadas, com mais ou menos sucesso, de modo a tentar mitigar o impacto da tecnologia nos orçamentos dos sistemas de saúde. A título de exemplo, destaca-se a aquisição e negociação centralizada de equipamentos, o aumento da exigência das análises de custo-benefício, a definição de normas de orientação clínica, entre outras. A aplicação e generalização de algumas destas medidas, ainda que não isentas de problemas e nem sempre aplicáveis em todas as circunstâncias, podem contribuir para moderar o impacto da tecnologia no crescimento das despesas em saúde.

A tecnologia afeta inequivocamente os sistemas de saúde. Contudo, se por um lado tal tem
permitido ganhos em saúde significativos, por outro lado podemos assistir a uma escalada dos
custos. A tecnologia é uma enorme oportunidade que frequentemente nos deslumbra e
entusiasma, mas traz também riscos associados que não podemos ignorar.

Eduardo Costa
(A coluna Notas da Nova é uma contribuição para a reflexão na área da saúde, pelos
membros do centro de investigação Nova Healthcare Initiative – Research. São artigos de
opinião da inteira responsabilidade dos autores
)