Terapia de cancro descoberta em Coimbra está a revelar-se eficaz 23 de Julho de 2015 Uma molécula para terapia inovadora no tratamento de vários tipos de cancro, patenteada pela Universidade de Coimbra (UC), está a revelar, de acordo com os estudos efetuados, a «eficácia desejada», anunciou hoje esta instituição.
«Vários estudos e experiências realizadas em ratinhos, entre 2011 e 2014, provaram a eficácia da molécula Redaporfin», descoberta na UC, para o tratamento de diversos tipos de cancro, «através de terapia fotodinâmica» (tratamento inovador que «permite eliminar células cancerígenas de forma precisa)», afirma a UC numa nota hoje divulgada e citada pela “Lusa”.
De acordo com os ensaios realizados, «86% dos ratinhos com tumores diversos que foram tratados com esta tecnologia, seguindo exigentes protocolos de segurança, ficaram curados», salienta a mesma nota, adiantando que «não se observaram efeitos secundários, como acontece com os tratamentos convencionais», como a quimioterapia.
O estudo, que acaba de ser publicado no “European Journal of Cancer”, demonstrou igualmente uma «taxa de reincidência da doença muitíssimo baixa», revelando a eficácia do fármaco.
Os testes efetuados «previram com rigor quando é que a resposta ao tratamento iria surgir, com que doses e em que circunstâncias seriam obtidos os efeitos terapêuticos no doente», salienta o diretor da química medicinal deste projeto, Luís Arnaut.
As previsões estão a ser «confirmadas nos ensaios clínicos em curso», acrescenta o investigador da UC.
Esta confirmação é «excecional» porque, «na grande maioria dos estudos, muito do conhecimento adquirido nos testes em animais não é confirmado nos humanos», mas «neste caso foi possível chegar à dose adequada para obter resultado terapêutico nos doentes sem efeitos adversos, como previsto», explica Luís Arnaut.
Estão a decorrer ensaios com doentes oncológicos em hospitais portugueses até ao final deste ano e os resultados já conhecidos e validados cientificamente «fundamentam a expectativa» de que a terapia fotodinâmica com a molécula Redaporfin se revele «mais eficaz que as terapêuticas convencionais», admite Luís Arnaut.
Grande parte do percurso está feita e o primeiro fármaco português para tratamentos oncológicos poderá estar no mercado «dentro de três a quatro anos», acredita o investigador e catedrático do Departamento de Química da UC.
Iniciada há mais de uma década, a investigação envolve perto de quatro dezenas de investigadores dos grupos de Luís Arnaut e de Mariette Pereira, da UC, da empresa Luzitin SA (criada para desenvolver este projeto), e de uma equipa de médicos do Instituto Português de Oncologia do Porto.
O aspeto mais inovador do tratamento fotodinâmico com Redaporfin reside no facto de «estimular o sistema imunitário do paciente, ou seja, a terapia limita o processo de metastização do tumor», isto é, «o sistema imunitário fica alerta e ativa a proteção antitumoral contra o mesmo tipo de células cancerígenas noutras partes do organismo», conclui Luís Arnaut.
Fundada, em 2010, pela Bluepharma e inventores da Redaporfin, a Luzitin – que realizou os estudos de pré-clínicos para obter autorização para a realização de ensaios clínicos com a Redaporfin – está, desde 2014, a realizar em Portugal um ensaio clínico de fase I/II com doentes de cancro avançado da cabeça e pescoço.
A Luzitin SA é financiada pela farmacêutica de Coimbra Bluepharma e pela sociedade de capital de risco Portugal Ventures. |