Tratamento da paralisia cerebral com células estaminais do cordão umbilical releva-se cada vez mais promissora 304

A propósito do Dia Mundial da Paralisia Cerebral, assinalado a 6 de outubro, o laboratório português de criopreservação BebéVida, destaca as mais recentes evidências científicas que apontam no sentido de as células estaminais do sangue e tecido do cordão umbilical serem seguras e eficazes no tratamento da Paralisia Cerebral (PC). Esta patologia manifesta-se na infância, atingindo entre 1,7 e 2,2 por mil crianças nos países mais desenvolvidos.

Com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e autonomia das pessoas com PC, vários estudos têm sido realizados para avaliar o efeito do sangue e tecido do cordão umbilical, apresentando resultados promissores. É o caso do ensaio clínico realizado por uma equipa de investigadores do Departamento de Neurologia Pediátrica da Universidade de Medicina de Teerão [i], cujos resultados foram publicados este ano na revista Stem Cell Research & Therapy, que permitiu concluir que a injeção intratecal (atua no sistema nervoso) de células mesenquimais do tecido do cordão umbilical é segura e eficaz. Esta forma de infusão, que pretende evitar que a administração de células estaminais mesenquimais seja filtrada pelo aparelho respiratório e renal (aumentando o número de células estaminais que chegam às zonas lesionadas), parece ter amplificado o espectro de atuação das células mesenquimais potenciando os seus efeitos.

Outros dois trabalhos, publicados em 2020, revelaram também conclusões entusiasmantes. Por um lado[ii], foram identificadas melhorias significativas na motricidade em crianças com PC que nas quais foi infundido sangue do cordão umbilical. Com este estudo os investigadores concluíram ainda que a infusão de sangue do cordão umbilical em conjunto com eritropoetina é segura e pode ser sinergicamente eficaz no tratamento da patologia. Por outro lado[iii], a infusão das células mesenquimais do tecido do cordão umbilical demonstrou ser segura e eficaz na melhoria da função motora grossa e cognitiva em crianças com PC, tendo sido ainda avaliados parâmetros como atividades diárias, avaliação da função cognitiva e função motora grossa, e em todos neles verificaram-se melhorias.

“Os resultados destes estudos revelam conhecimento sobre uma nova estratégia terapêutica para doentes com PC, havendo já evidências que o tratamento com células estaminais do cordão umbilical é eficaz e seguro na melhoria da vida e quotidiano de crianças com esta doença”, refere Andreia Gomes, Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento (I&D) do banco de tecidos e células estaminais BebéVida.

Apesar de ainda se encontrar em fase de ensaios clínicos, a terapia celular com células estaminais mesenquimais representa a única abordagem clínica para melhoria da condição dos doentes com PC. Neste contexto, a investigadora explica que “são necessários mais estudos para revelar o caminho central relacionado com a recuperação neuronal, ou seja, para perceber em que mecanismos o sangue e o tecido do cordão umbilical atuam para ajudar na recuperação das pessoas com PC”.

De acordo com o relatório “Paralisia Cerebral em Portugal no Século XXI”, a incidência da PC diagnosticada aos cinco anos de idade tem vindo a diminuir desde 2001. Nesse ano, a taxa correspondia a 2,01 por mil bebés e em 2010 esta taxa situou-se em 1,05 casos por mil nados vivos em Portugal.

Ao longo de vários anos a intervenção na doença refletia-se primordialmente na prevenção primária, levando ao conhecimento dos fatores etiológicos e, assim, minimizando a incidência da PC através da melhoria da qualidade de resposta pré e perinatal e da resposta à prematuridade. No que respeita à restante intervenção terapêutica, esta foi maioritariamente focada na componente motora e realizada por longos períodos em instituições de reabilitação. Mais recentemente, vários estudos têm sido realizados de forma a perceber a componente neurológica e assim combater esta forma de paralisia.

Existem vários fatores de risco associados ao aparecimento da PC, embora o mais preponderante seja a prematuridade. Os sinais e sintomas da doença aparecem durante a infância ou pré-escola, sendo os cinco anos de idade o momento considerado ideal para um diagnóstico definitivo. Apesar de serem muito variáveis, frequentemente os sintomas relacionam-se com a dificuldade na deglutição e a reduzida amplitude de movimento em várias articulações do corpo, devido à rigidez muscular.

A PC diz respeito a um conjunto de desordens no desenvolvimento do controlo motor e da postura, resultando de uma lesão não progressiva no momento em que o sistema nervoso central se desenvolve. A lesão pode ocorrer no nascimento, antes ou posteriormente, e apesar de não agravar nem progredir, provoca limitações motoras e posturais.

[i] Amanat, M., Majmaa, A., Zarrabi, M. et al. Clinical and imaging outcomes after intrathecal injection of umbilical cord tissue mesenchymal stem cells in cerebral palsy: a randomized double-blind sham-controlled clinical trial. Stem Cell Res Ther 12, 439 (2021).
[ii] Min, K., Suh, M.R., Cho, K.H. et al. Potentiation of cord blood cell therapy with erythropoietin for children with CP: a 2 × 2 factorial randomized placebo-controlled trial. Stem Cell Res Ther 11, 509 (2020).
[iii] Gu, J., Huang, L., Zhang, C. et al. Therapeutic evidence of umbilical cord-derived mesenchymal stem cell transplantation for cerebral palsy: a randomized, controlled trial. Stem Cell Res Ther 11, 43 (2020).