Três dos quatro autores do estudo que sugere que os antimaláricos cloroquina e hidroxicloroquina podem aumentar o risco de morte de doentes com covid-19 retrataram o estudo, invocando que não garantem a veracidade dos dados.
O estudo, cuja credibilidade foi questionada por cientistas, foi publicado em 22 de maio na revista médica britânica The Lancet e levou a que vários países, incluindo Portugal, suspendessem ou recomendassem a suspensão do uso de hidroxicloroquina no tratamento hospitalar de doentes com covid-19.
Na nota de retratação, Mandeep Mehra, que trabalha no Hospital de Brigham de Boston, nos Estados Unidos, Frank Ruschitzka, do Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, e Amit Patel, da Universidade de Utah, também nos Estados Unidos, afirmam que “já não podem atestar a veracidade das fontes primárias dos dados”, usados para o artigo, e pedem desculpas aos editores e aos leitores da revista pela eventual “vergonha ou incómodo” causados.
Os três investigadores sublinham, ainda, que, após a publicação do estudo, “se levantaram várias preocupações em relação à veracidade dos dados e análises conduzidos pela Surgisphere e pelo seu fundador e coautor Sapan Desai”, que também assina o artigo científico.
Numa declaração, citada pela Lusa, a revista The Lancet refere que o artigo será atualizado em breve de modo a refletir a retratação do estudo, pois, conforme frisa leva “extremamente a sério” os assuntos relacionados com a “integridade científica”.
O estudo em causa baseou-se na observação de dados de 14.888 doentes hospitalizados com covid-19 que foram tratados com um ou ambos os medicamentos para a malária (cloroquina e hidroxicloroquina), combinados ou não com a administração dos antibióticos azitromicina e claritromicina, utilizados no tratamento de infeções pulmonares bacterianas.
Os dados foram comparados com os de 81.144 doentes com covid-19 igualmente hospitalizados, mas que não receberam tratamento com estes medicamentos.
A Organização Mundial de Saúde que, após a publicação do estudo, suspendeu temporariamente os ensaios clínicos em curso com hidroxicloroquina em doentes com covid-19, decidiu, agora, retomá-los depois de a revista The Lancet ter reconhecido num aviso formal que “questões científicas importantes sobre os dados” pairavam sobre o estudo.