Tribunal de Contas revela rendibilidades «fortemente negativas» do Hospital de Cascais 488

Tribunal de Contas revela rendibilidades «fortemente negativas» do Hospital de Cascais

17 de julho de 2014

Uma auditoria do Tribunal de Contas, dá conta de que, entre 2008 e 2012, a rendibilidade do Hospital de Cascais, constituído como parceria público privada, foi «fortemente negativa» e «muito inferior» ao que estava inicialmente previsto.

Segundo o documento, os números apresentados no quadriénio ficaram «aquém do que se esperava», uma vez que o projeto de parceria público-privada para o Hospital de Cascais previa que a Entidade Gestora do Estabelecimento obtivesse, nos 10 anos de exploração, cash flows (entrada e saída de dinheiro corrente) que permitissem alcançar uma taxa de rendibilidade de 9,74%.

Contudo, o retorno contabilístico anual, segundo o relatório, mostra que em 2009 a rendibilidade foi de 0,30%, em 2010 foi de 195,82% negativos, em 2011 foi de 14,03% negativos e em 2012 foi de 21,63% negativos.

No contraditório, o Ministério das Finanças sugere que a baixa rendibilidade constatada pode ser «consequência de uma boa negociação original por parte das entidades públicas envolvidas», argumento rejeitado pelo Tribunal de Contas que, defendeu que «uma boa negociação pressupõe a sustentabilidade da parceria».

«Caso contrário, pode resultar em custos acrescidos para os contribuintes, seja devido a renegociações, ou a um eventual resgate da parceria por parte do Estado. Neste caso, ocorreu uma desvalorização da HPP Saúde – Parcerias Cascais, que teve reflexo no valor de venda da sua acionista, a HPP- Hospitais Privados de Portugal, que então pertencia ao grupo Caixa Geral de Depósitos», sublinhou.

A auditoria dá conta de que 2010, o ano de transição para o novo edifício do Hospital, foi «o mais crítico», com a situação económica a «degradar-se significativamente».

«Só em 2010, os gastos com pessoal foram superiores em 69%, cerca de 14.000 milhares de euros, em relação ao previsto no caso base, como consequência da contratação de mais 417 colaboradores», informa.

Para o tribunal, isso deveu-se a uma «gestão reativa que conduziu ao aumento dos gastos na área dos recursos humanos, afastando-se claramente do previsto no caso base».

«A HPP Saúde – Parcerias Cascais, S.A., revelou, nos primeiros três anos de atividade, um desequilíbrio estrutural acentuado, patenteado em capitais próprios negativos, 28.271 milhares de euros negativos em 2010 e 30.502 milhares de euros negativos em 2011, o que colocou a sociedade na situação de “falência técnica”», lê-se.

O Tribunal de Contas revela ainda que foi nos gastos com pessoal que o Hospital de Cascais revelou ser mais eficiente, ao gastar 1.460 euros por “doente padrão”.

Já o desempenho mais fraco reside nos tempos de espera para a cirurgia e para as primeiras consultas.

Após o relatório apurado, o Tribunal de Contas sugere à ministra das Finanças que reforce o «acompanhamento da sustentabilidade financeira das sociedades gestoras, com vista a antecipar eventuais situações de falência que provoquem a interrupção ou coloquem em causa a continuidade da prestação do serviço público com qualidade e segurança».

Ao ministro da Saúde, recomenda «determinar a realização da comparação (benchmarking) do desempenho da Entidade Gestora do Estabelecimento do Hospital de Cascais com o dos demais hospitais» e publicitar essas conclusões «de forma a promover a transparência sobre os resultados dos vários modelos de gestão hospitalar existentes no Serviço Nacional de Saúde».