30 de Janeiro de 2015 As autoridades estão preocupadas com a tuberculose em Penafiel, a mais elevada na Europa, alegadamente relacionada com a indústria do granito, e o hospital alerta que muitos doentes recorrem tardiamente à assistência médica. «Ao hospital recorrem as situações mais complicadas», afirmou à “Lusa” o diretor clínico, Barros da Silva, frisando que a maioria dos doentes tem a ver com inalação prolongada de silicose associada à profissão de pedreiro. As autoridades de saúde revelaram recentemente que em algumas freguesias (Boelhe, Luzim, Rio de Moinhos e Oldrões) localiza-se o maior número de casos de tuberculose da Europa. Segundo a Administração Regional de Saúde do Norte, «a doença mantém níveis preocupantes» em algumas freguesias devido «a uma conjugação de fatores económicos, sociais e culturais». Naquelas freguesias, segundo a ARS-N, as taxas de incidência ficam, em vários locais, «acima dos 100 novos casos por 100.000 habitantes por ano». Para o diretor clínico do Hospital Padre Américo, alguns doentes veem agravada a situação clínica, porque abandonam a terapêutica e consomem álcool, frisando que ainda «impera o estigma da tuberculose». «Aparecem situações graves, porque eles protelam a vinda, mas não tem havido acréscimo de doentes», assinalou. A deteção da doença, alertou, ocorre muitas vezes quando os doentes vão ao hospital para serem tratados a outras situações clínicas. «Nesses casos são tratados e encaminhados para os cuidados de saúde primários no sentido de continuaram o tratamento e fazerem o inquérito de prevalência junto de familiares», explicou. Sobre o assunto, o presidente da Câmara de Penafiel, Antonino Sousa, disse à “Lusa” estar preocupado, apesar de insistir não se tratar de um surto, recordando que o número de doentes até tem diminuído nos últimos meses. No entanto, disse, já seguiu para o Ministério da Saúde uma recomendação da autarquia para que sejam colocados mais médicos nas zonas afetadas pela doença, para facilitar os rastreios e a administração presencial dos medicamentos. «Se os doentes tiverem de se deslocar para unidades de saúde mais distantes das habitações, isso acaba por se transformar num obstáculo ao tratamento», reforçou Antonino Sousa. A “Lusa” ouviu dois ex-doentes de tuberculose, pedreiros habituados à inalação de silicose. Alcino Monteiro, de 52 anos, de Rio de Moinhos, disse estar completamente curado, depois de ter sido tratado durante nove meses, tomando oito comprimidos por dia. «Teve de ser porque eu tinha falta de apetite, tosse e não tinha força para trabalhar», contou, frisando que três irmãos tiveram de se submeter ao mesmo tratamento. «Há muitos casos por aqui e também em Boelhe e Alpendurada», exclamou. Sobre o risco da profissão afirmou: «É uma situação de risco, mas não há outros trabalhos por aqui». José Ferreira, de 41 anos, da freguesia de Boelhe, disse ter contraído a doença há quatro anos. Após o tratamento ficou bem e desde então diz usar uma máscara quando trabalha «para evitar uma recaída». «Na pedreira, as pessoas trabalham muito. Aquilo é muito puxado e há bastante pó», contou. O trabalhador afirmou conhecer muitos casos de tuberculose que foram curados, mas um dos problemas, alertou, é que nos tratamentos há doentes que consomem álcool durante o tratamento, retirando-lhe eficácia. José Ribeiro, empresário no setor em Boelhe desse 1976 e que trabalha comos granitos há quase 60 anos, rejeitou haver uma relação direta entre a tuberculose e a profissão. «Trabalhamos nisto, aqui na empresa, há mais de 30 anos, e nunca tivemos problemas com essa doença», exclamou, enquanto dizia ter a seu cargo mais de 30 funcionários. Para o empresário, a propagação da tuberculose tem outras explicações, relacionadas com o consumo de álcool quando decorrem os tratamentos e o contágio nos cafés e nas famílias. «Não tem nada a ver. As pedreiras são uma coisa, a tuberculose é outra», insistiu. José Ribeiro disse que, ao contrário do que acontecia há 20 anos, atualmente os trabalhadores têm mais cuidado, protegendo-se com máscaras e outros equipamentos e a empresas também têm melhores condições de higiene e segurança. Para o presidente da Junta de Boelhe, Artur Teixeira, o consumo de álcool, o tabaco e as deficientes condições de higiene de alguns casos são fatores de risco que acrescem à profissão. Contudo, observou, as pessoas hoje estão mais bem informadas devido às campanhas de sensibilização, com aconselhamento sobre os cuidados para não contrair a doença e contagiar familiares e amigos. |