Tuberculose multirresistente aponta para necessidade de novos fármacos 627

Tuberculose multirresistente aponta para necessidade de novos fármacos

25 de Março de 2015

Um em cada três casos de tuberculose multirresistente em Portugal é extremamente resistente e há situações de quase total resistência, alertou ontem a Direção-Geral da Saúde (DGS), apontando para a necessidade de novos fármacos.

Durante a apresentação pública dos dados de tuberculose relativos a 2014, a coordenadora nacional da luta contra a tuberculose, da DGS, Raquel Duarte, afirmou contudo que existem atualmente poucos casos de tuberculose multirresistente, avançou a “Lusa”.

Na União Europeia (UE), 4,1% dos casos são multirresistentes, uma «situação grave que podemos não tratar», disse a responsável.

«Em Portugal não é um problema tão grave, pois só 0,9% dos casos foram multirresistentes. Estamos em situação privilegiada face à UE. Temos poucos multirresistentes, 30% dos multirresistentes são extremamente resistentes, mas há situações de quase totalmente resistentes e precisamos de novos fármacos», acrescentou.

A necessidade de novos fármacos e até de uma boa vacina é fundamental para lutar contra estes casos, consideram as autoridades de saúde.

O secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, deixou, a propósito, uma crítica à comunidade de investigação médica e farmacêutica, para quem a tuberculose tem sido uma das doenças mais ignoradas.

«A tuberculose não é uma ameaça do passado, é uma doença bem presente. Têm surgido estirpes cada vez mais resistentes», afirmou.

No entanto, a forma mais comum de tuberculose é tratável e se for tratada, durante o tempo preconizado, é possível atingir a cura, esclareceu Raquel Duarte.

Para alcançar este objetivo é necessário apostar mais no diagnóstico precoce – para o que é determinante a educação da população, a melhoria de acesso aos cuidados de saúde e bons meios complementares de diagnóstico –, no tratamento e na adesão ao tratamento.

Mas o combate à tuberculose vai mais além, não chega tratar e prevenir, há uma componente social, económica e populacional, é uma doença multidisciplinar, destaca Raquel Duarte.

Olhando para esses indicadores, a responsável identifica a infeção por VIH, o desemprego e o número de médicos como os fatores de maior impacto no aumento ou diminuição dos casos de tuberculose.

Tendo por referência de base cem mil habitantes, por cada novos dez casos de VIH há um aumento de 2,5 casos de tuberculose e por cada mil novos desempregados há um novo caso de tuberculose.

Do lado positivo constata-se que o aumento de 10 médicos por cada cem mil habitantes leva à redução de cinco novos casos de tuberculose por cem mil habitantes.

Em 2014, Portugal ficou pela primeira vez abaixo dos 20 novos casos de tuberculose por cada cem mil habitantes, um valor que é preciso manter na linha descensional em direção aos 15 e, depois, aos 10 casos, considerou o diretor do programa nacional para a infeção VIH/sida e tuberculose.

António Diniz sublinhou que, até ao momento, Portugal soube cumprir os objetivos a que se propôs na luta contra a tuberculose: «melhor é possível em 2012» e «tornar Portugal um país de baixa incidência de tuberculose em 2014».

Para 2015 fica o desafio de «centrar a atenção nos grandes centros urbanos» (Lisboa e Porto), onde a incidência ainda se mantém acima dos 20 casos por cem mil habitantes.