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Turismo de saúde: 26 unidades com selo de garantia internacional

28 de Agosto de 2014

Portugal ainda não surge nas rotas internacionais do turismo de saúde mas tem cada vez mais unidades com acreditação internacional, os “selos de garantia” que as organizações que dinamizam o setor aconselham os doentes a procurar antes de recorrerem a serviços.

Ao todo são já 26 as unidades certificadas pelos dois principais organismos internacionais de acreditação de qualidade dos serviços, a Joint Comission International e o CHKS, confirmou o “i” junto destas instituições. A maioria foi obtida nos últimos três anos e trata-se de hospitais do SNS, estando também incluídas oito unidades de cuidados continuados de misericórdias e dois hospitais privados. Joaquim Cunha, responsável pelo consórcio que desde 2008 procura dinamizar este setor – o Health Cluster Portugal –, defende que a certificação é um pilar central na estratégia de promoção: mesmo que nem todas as unidades apostem na internacionalização, haver mais selos de garantia ajuda a construir a reputação do país, diz.

No final do ano chega ao fim o projeto interministerial Healthy’n Portugal, que visou estudar as oportunidades de internacionalização e captação de receitas num mercado que os analistas consideram emergente mas o HCP espera continuar a investir na promoção, até porque Portugal não é o único país a despertar para a corrida a um lugar neste setor. O Dubai anunciou este mês que, em outubro, vai lançar um plano para se tornar um dos destinos mais populares para tratamentos em dermatologia, medicina dentária ou ortopedia.


Um dos passos será a criação de um portal com informação sobre a oferta no país, o que também está nos planos nacionais. Joaquim Cunha adianta que a página dedicada ao turismo de saúde em Portugal deve ficar online até ao final do ano.

Apesar de o tema da internacionalização do setor da saúde ter entrado na agenda nacional nos últimos anos – fazia, aliás, parte do programa do governo –, ainda não há números sobre um eventual crescimento de receitas. No setor público, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra – que por ter passado recentemente por uma fusão ainda tem a decorrer o processo de certificação iniciado em 2010 no CHKS – é uma das unidades do SNS com um plano mais avançado, centrado em oferta diferenciada mas também em formação de profissionais no estrangeiro, estando a formar parteiras em Angola.

Para este ano, revelou ao “i” a unidade, prevê receitas na casa dos 2,5 milhões de euros e em 2015 de 4 milhões.

Na vertente de captação de doentes, o reforço da oferta nacional parece ainda não ter chegado lá fora. A organização norte-americana Patients Beyond Borders, referência nesta área, admitiu ao “i” não ter informação sobre Portugal.

Este organismo analisa os principais destinos com base em informação de consultoras como a Deloitte, a McKinsey, a Gallup e a Economist e estima que em 2013 tenha havido um recorde de 7 a 10,7 milhões de turistas de saúde a nível mundial. Além de analisarem o setor, respondem às perguntas de interessados, sendo uma das mais frequentes se será seguro fazer tratamentos em locais onde os preços chegam a ser 80% mais baixos. Segundo a PBB, antes de viajar, deve falar-se com um médico e obter-se informação sobre certificação das unidades, optando por selos de garantia reconhecidos.
Estando isso assegurado, os custos de contexto, em infra-estruturas, pessoal ou litígios, explicam as diferenças nos preços.

Segundo a análise deste organismo, nos EUA uma prótese da anca custa 33 mil dólares mas na Índia pode ser colocada por 8 mil dólares ou por 11 500 dólares no México. Mas o principal destino neste momento continua a ser a Tailândia, que recebe 1,3 a 1,8 milhões de turistas por ano.

Em maio, um estudo feito no âmbito do projecto Health’in Portugal revelou dados para o mercado nacional, sugerindo que a oferta será competitiva junto de países do Norte da Europa, como a Alemanha, em áreas como ortopedia, a oftalmologia e a cirurgia plástica. Cunha nega que a diretiva de mobilidade de doentes na Europa venha a ter um impacto significativo neste setor, prevendo que cresça sobretudo através de seguros ou doentes particulares.

A análise estimou que o turismo de saúde, se continuar a crescer, possa render em 2020 cerca de 400 milhões de euros à economia nacional, cerca de 80 milhões a serviços de saúde e o restante em ofertas associadas de bem-estar, hotelaria e lazer. «É de esperar que não apareçamos nas rotas internacionais, porque isso também implica investimento nessas publicações. Seguindo a estratégia de promoção, em dois anos podemos estar disponíveis para o fazer», diz Joaquim Cunha.

TOP 10

1. Tailândia, o destino mais procurado: 1,3 a 1,8 milhões de viajantes – Segundo a análise da Patients Beyond Borders, a Tailândia foi em 2013 o país mais procurado em viagens com fins de saúde. A organização sublinha que o crescimento do país nos últimos anos levou à instituição de um serviço de saúde que garante cobertura universal nos tratamentos. Esta oferta associada ao desenvolvimento do sector do turismo com SPA e resorts de bem-estar são os principais atractivos. O hospital mais procurado é o Bumrungrad International Hospital, certificado pela Joint Comission International. Tratamentos para mudança de sexo são dos mais procurados pelos estrangeiros, mas também procedimentos na área da cirurgia cosmética, ortopedia, cardiologia e fertilidade. Os valores chegam a ser 40% a 60% mais baixos que nos EUA, Europa e Japão.

2. Estados Unidos: 850 mil a 1,25 milhões de viajantes – Os centros médicos ligados às universidades como Stanford e Harvard bem como a Cleveland Clinic e o Hospital Mt. Sinai são dos mais procurados, sobretudo em casos mais complexos ou em situações de último recurso. Também a Florida tem apostado na captação de doentes, com hotéis associados aos principais hospitais para tratamentos de longa duração e reabilitação.

3. México: 200 mil a 1,1 milhões de viajantes – Quatro hospitais com acreditação internacional são o principal destino dos americanos que procuram tratamentos para perder peso e tratamentos dentários.

4. Malásia: 670 mil viajantes – A maioria dos estrangeiros que procuram tratamento na Malásia são da vizinha Indonésia. A Patients Beyond Borders diz que a oferta do país é um dos segredos mais bem guardados do turismo médico. O país tem dez hospitais acreditados pela Joint Comission International, procurados sobretudo para operações na área cardíaca e de ortopedia.

5. Singapura: 410 mil a 610 mil viajantes – Segundo a Organização Mundial de Saúde, Singapura é o sexto país a nível mundial com melhores cuidados de saúde. É procurada por tratamentos na área do cancro, sendo uma das instituições mais cotadas o Centro Internacional Médico John’s Hopkins.

6. Índia: 350 mil a 850 mil viajantes – Os preços 65% a 90% mais baixos do que nos EUA são um dos principais atrativos. Americanos, canadianos e europeus procuram intervenções em várias especialidades, em particular cardiologia. Em 2014 tinham acreditação da JCI 21 hospitais.

7. Coreia do Sul: 200 mil a 350 mil – Apesar de permanecerem algumas barreiras linguísticas, as clínicas coreanas são procuradas para cirurgia plástica e tratamentos na área da coluna.

8. Brasil: 180 mil viajantes – O ex-libris do turismo de saúde é a clínica do cirurgião plástico Ivo Pitanguy.

9. Taiwan: 170 mil viajantes – É procurada sobretudo por viajantes de Hong Kong, Macau e China. Aposta em pacotes de prevenção e check-up.

10. Turquia: 110 mil viajantes – Europeus em busca de alternativas à espera para cirurgia nos serviços de saúde e ali têm preços até 70% mais baixos que no privado nos seus países são novos clientes.