Estudos recentes demonstram a existência de uma prescrição crescente de psicofármacos em Portugal, nomeadamente de antidepressivos e antipsicóticos [1]. Também em relação aos ansiolíticos, hipnóticos e sedativos (AHS) a prescrição excessiva foi considerada preocupante pelo International Narcotics Control Board em 2006 e exposto em publicações nacionais nos anos subsequentes [2]. Especificamente quanto aos AHS, entre os efeitos secundários associados ao seu uso estão incluídos a sonolência diurna, lentificação psicomotora, descoordenação motora (relacionada com quedas), tonturas, disfunção cognitiva e dependência [3]. Quanto aos antipsicóticos, tem-se verificado uma utilização progressivamente crescente, sobretudo dos antipsicóticos de segunda geração. O aumento exponencial destas prescrições, como é o caso do fármaco Quetiapina [1], poderá ser indicativo da sua utilização inadequada como indutor do sono ou para o controlo de alterações do comportamento nos idosos, como tem sido demonstrado noutros países europeus com padrões de prescrição semelhantes[4]. A maioria das prescrições de antidepressivos e AHS em Portugal é realizada em cuidados de saúde primários, facto que deve ser considerado como adequado, dada a maior quantidade e melhor acesso a estes especialistas para o tratamento das doenças mentais comuns (ansiedade e depressão), cuja prevalência em Portugal é a segunda mais elevada da Europa [5]. Tem sido discutido no meio clínico as possíveis razões que levam a este padrão de prescrição que no caso dos AHS é claramente excessiva e desadequada. Na opinião de alguns especialistas em medicina geral e familiar (MGF), as razões para este facto poderão relacionar-se com a insuficiente colaboração com os especialistas em psiquiatria, a dificuldade/especificidade na gestão/tratamento da pessoa com doença mental, com o pouco tempo estipulado para as consultas médicas nos novos modelos de Unidades de Saúde Familiar (USFs), o pouco tempo de formação em psiquiatria e saúde mental durante o internato médico (durante a especialidade de MGF, dos 4 anos de formação apenas 3 meses eram dedicados à formação em psiquiatria e saúde mental, tendo recentemente esse período sido reduzido para 2 meses), a falta de outros instrumentos terapêuticos, nomeadamente a dificuldade de encaminhamento para um acompanhamento psicológico adequado. Independentemente das opiniões ou razões, considerando que as doenças mentais são uma das principais causas de incapacidade no mundo [6], os custos com um tratamento desadequado destas patologias deverão ser seriamente considerados. A utilização excessiva de psicofármacos não é um problema novo em Portugal, no entanto, urge serem implementadas as soluções também há muito conhecidas para a melhoria da qualidade do cuidado (que levaria a menor necessidade de prescrição?), nomeadamente a implementação de programas de promoção de saúde mental, inclusão de indicadores de contratualização dos cuidados de saúde mental visando as doenças mentais comuns, maior acesso a consultas de psicoterapia em cuidados de saúde primários, colaboração e formação contínua em temas de saúde mental nos cuidados de saúde primários. Se o problema não é recente e as soluções são conhecidas, por que estamos então à espera? Referências: 1. Carvalho, Á., P. Mateus, and M. Xavier, Saúde Mental em Números 2015. 2016. Teresa Reis (A coluna Notas da Nova é uma contribuição para a reflexão na área da saúde, pelos membros do centro de investigação Nova Healthcare Initiative – Research. São artigos de opinião da inteira responsabilidade dos autores)
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