A Associação de Farmácias de Portugal (AFP) “refuta as críticas” da Associação Portuguesa das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN), que contradizem os resultados dos estudos já efetuados sobre o alargamento da campanha de vacinação sazonal contra a gripe e a COVID-19 às farmácias comunitárias. Já a Associação Nacional das Farmácias (ANF) garante que “não existe qualquer evidência que relacione os internamentos por gripe com o contributo das farmácias na campanha de vacinação sazonal”.
O que defendia a USF-AN
A Associação Portuguesa das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) criticou, no passado dia 18 de junho, a centralização das vacinas sazonais nas farmácias no outono/inverno 2023/24, lembrando que houve mais internamentos por gripe nos cuidados intensivos e as metas foram atingidas mais tarde.
Em comunicado, a USF-AN recordava que, quando a centralização do processo estava nos centros de saúde, Portugal “era dos poucos países que conseguia cumprir as metas da Organização Mundial da Saúde em tempo útil”.
Sobre os internamentos por gripe em cuidados intensivos, a USF-AN dizia que houve “mais do dobro” e compara o período entre a semana 40 (02 a 08 de outubro) de 2023 e a semana 23 (03 a 09 de junho) de 2024 e o mesmo período de 2022 e 2023, para concluir que os casos subiram de 76 para 156.
Apontando dados retirados dos Boletins de Vigilância Epidemiológica da Gripe e outros Vírus Respiratórios do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, relativos à evolução semanal da proporção de doentes com gripe em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) desde 2012 até 2024, afirmou: “Nunca houve um pico de casos de gripe nas UCI tão acentuado como na época gripal de 2023/2024”.
ANF: ”Esmagadora maioria dos inquiridos (94,8%) concorda com a administração nas farmácias”
Ao portal NETFARMA, a Associação Nacional das Farmácias (ANF), declarou que “é com base em evidência que se deve gerar conhecimento para a preparação das campanhas de vacinação sazonal futuras. É ainda de salientar que a vacinação pelas farmácias não é uma inovação exclusiva em Portugal, e é já uma realidade em 56 países”.
A ANF divulgou, no dia 18 de junho, as principais conclusões do Estudo de Avaliação da Campanha de Vacinação Sazonal 2023/24, desenvolvido pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR) que teve como objetivos caracterizar a população elegível para a vacinação sazonal gratuita nas farmácias em 2023/24 no âmbito da colaboração com o SNS, avaliar o impacto da participação das farmácias comunitárias na campanha e gerar conhecimento para a preparação das campanhas de vacinação sazonal futuras.
“Os resultados obtidos mostram que a inclusão das farmácias comunitárias no processo de vacinação reduziu barreiras no acesso à vacinação, melhorou a satisfação das pessoas com o processo, libertou recursos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), gerou poupanças económicas para o utente e poderá ter impactado positivamente a cobertura vacinal da população. O estudo revela ainda que a esmagadora maioria dos inquiridos (94,8%) concorda com a administração nas farmácias comunitárias das vacinas contra a gripe e contra a COVID-19”, sublinha a ANF.
Apesar dos desafios que caracterizaram a época vacinal de 2023/24, onde se inclui a crescente hesitação vacinal e a inclusão de novos grupos etários (o número de pessoas a vacinar aumentou para cerca de 3 milhões, com a inclusão do grupo 60-64 anos, mais cerca de 600 mil pessoas relativamente à época anterior), “o esforço conjunto dos mais de 3.500 pontos de vacinação permitiu que fossem administradas quase 4,5 milhões de vacinas, sendo inegável o elevado o impacto da rede de Farmácias nesta operação”, refere a associação das farmácias, acrescentando que “aproximadamente 70% das vacinas foram administradas nas farmácias o que permitiu manter ou superar as taxas de cobertura vacinal contra a gripe de anos anteriores, e atingimos uma taxa de cobertura vacinal contra a COVID-19 quase cinco vezes superior à média europeia deste ano”.
Deste modo, para a ANF, “não existe qualquer evidência que relacione os internamentos por gripe com o contributo das farmácias na campanha de vacinação sazonal” e, assim sendo “não comenta os dados apresentados sobre o número de casos de gripe em UCI, e o aumento de 2,45% face ao ano anterior. Os dados não apresentam evidência de uma relação com a vacinação, desconhecendo-se, nomeadamente, se se referem a grupos de risco elegíveis para a vacinação”.
AFP: “Elevar potencial das farmácias comunitárias a outros serviços”
Também ao NETFARMA, Isabel Cortez, presidente da AFP, declarou que a associação “refuta estas críticas [da USF-AN] que contradizem os resultados dos estudos já efetuados sobre o alargamento da campanha de vacinação sazonal contra a gripe e a COVID-19 às farmácias comunitárias”.
Para Isabel Cortez, “é consensual para todas as partes, e os estudos comprovam-no, que a Portaria n.º 264/2023, publicada em 17 de agosto de 2023, veio reduzir barreiras no acesso à vacinação, melhorar a satisfação das pessoas com o processo, libertar recursos no SNS, gerar poupanças económicas para o utente e impactar positivamente a cobertura vacinal da população”.
Os últimos dados conhecidos confirmam, segundo a presidente da AFP, “esta avaliação muito positiva e que todos os dias também percecionamos na relação com os utentes das nossas farmácias, localizadas em todo o país. Para a AFP, não restam dúvidas sobre a importância do contributo das farmácias comunitárias para o combate às assimetrias e para a prestação de cuidados de saúde de qualidade a toda a população, assente numa gestão sustentável do Serviço Nacional de Saúde”.
A título de exemplo do que tem vindo a acontecer na Europa, “nomeadamente em França e no Reino Unido, gostaríamos mesmo de elevar potencial das farmácias comunitárias a outros serviços, sendo para tal necessário que estas sejam inegavelmente reconhecidas e valorizadas como agentes de saúde, ao serviço da população e enquanto rede de proximidade do Serviço Nacional de Saúde”, conclui a responsável.
Farmácias mantém-se na próxima campanha
A Direção-Geral da Saúde (DGS) anunciou, no passado dia 20, que a próxima campanha de vacinação contra a gripe e contra a COVID-19 deverá decorrer em moldes idênticos à de 2023/224 e vai alargar a vacina de alta dose contra a gripe a pessoas com 85 e mais anos.
As linhas gerais da próxima campanha de vacinação foram apresentadas pela diretora-geral da Saúde, Rita Sá Machado, em Lisboa, que garantiu, segundo a Lusa, que “o trabalho com os parceiros irá manter-se como aspeto fundamental da campanha”.