Vacinação sazonal nas farmácias “foi mais um passo na asfixia do SNS”, garante Sindicato dos Enfermeiros 848

O Sindicato dos Enfermeiros (SE) denunciou esta terça-feira (12) que a inclusão do processo de vacinação sazonal nas farmácias comunitárias “foi mais um passo na asfixia do SNS”, afirmando que a taxa de inoculações baixou por falta de organização.

“A Direção Executiva do SNS [Serviço Nacional de Saúde] incluiu as farmácias comunitárias no processo e agora está a pedir às equipas das USF [Unidades de Saúde Familiar] para ajudarem a acelerá-lo. A taxa de vacinação desceu por falta de organização e dispersão dos meios”, adianta o SE em comunicado, citado pela Lusa.

De acordo com o presidente do SE, Pedro Costa, “os sinais dados foram de alguma subalternização da importância da vacinação e do conhecimento que os enfermeiros de família têm do histórico de cada doente”, lembrando que o processo, “em anos anteriores, apresentou excelentes resultados”.

“O processo de vacinação sazonal – uma competência que esteve sempre na esfera dos cuidados de saúde primários, com os enfermeiros na primeira linha – está este ano com uma cobertura abaixo do que se vinha registando nos últimos anos. Isto num ano em que a Direção Geral de Saúde decidiu incluir no processo as farmácias comunitárias”, salienta.

Face às dificuldades, a direção executiva do SNS solicitou, segundo o sindicato, aos profissionais das USF e das Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) para convocarem urgentemente os utentes com idade superior a 60 anos.

“Isto num ano de uma grave crise nos serviços de atendimento à doença aguda e numa altura que total insatisfação dos profissionais de saúde”, sublinha Pedro Costa.

Os dados mais recentes divulgados pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia indicam que, nos últimos quatro anos, Portugal superou as metas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a cobertura vacinal de pessoas com mais de 65 anos.

“Em menos de mês e meio, os centros de saúde já tinham administrado 30% do total de vacinas dadas em Portugal, quase o dobro da percentagem que estava inicialmente prevista”, observou o sindicalista, recordando que em 2022, pela mesma altura, os centros de saúde evidenciavam “um desempenho superior de vacinas administradas, nas faixas dos 70 e 80 anos, grupo etário que este ano começou a tomar as vacinas nas farmácias”.

Em relação à vacinação contra a covid-19, no ano passado, mais de 22% da população de 70 anos e 16,5% de 80 anos tinham sido já vacinados.

Pedro Costa corroborou ainda com a Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) que na última semana disse que o que o Estado paga – 11,5 milhões de euros – por ano às farmácias pela vacinação contra a covid-19 serviria para contratar 639 enfermeiros. O Estado paga às farmácias comunitárias 2,5 euros por cada vacina administrada.

“Estamos a falar do valor mais ou menos correspondente ao necessário para contratar e remunerar mais de 600 enfermeiros em falta no SNS, mais de 85.000 horas de cuidados de saúde que se perdem”, enfatizou Pedro Costa, acrescentando que a medida “garantiria a total cobertura vacinal e cuidados de enfermagem qualificados a cerca de um milhão de utentes sem enfermeiros de família”.

O SE mostrou-se também preocupado com a transferência de verbas públicas para um sistema privado de assistência em saúde, demonstrando que o SNS está “a viver sua pior crise desde a sua criação”.