“Vamos revolucionar o mercado nacional na área da enxaqueca” 1587

A concluir as comemorações do 20º aniversário da presença da Lundbeck em Portugal, marcado por diversas iniciativas, a Country Manager da companhia, Sara Barros, fala à Marketing Farmacêutico sobre o negócio, o futuro do setor e apela a políticas de retenção de talento que impeçam os melhores executivos de procurarem carreiras internacionais. Ao mesmo tempo, promete grandes novidades…

 O seu percurso na Indústria Farmacêutica (IF) está muito ligado à gestão de marcas e às vendas. Até que ponto isso é uma vantagem quando se assume a liderança de uma companhia?

O meu percurso na IF está, de facto, muito ligado à gestão de produto e ao marketing e vendas e, sim, considero que esse meu legado representou uma vantagem significativa quando assumi a liderança da Lundbeck Portugal. A verdade é que a área comercial implica uma compreensão profunda do mercado em que atuamos, das necessidades dos clientes e da concorrência. Essa experiência permite-nos tomar decisões estratégicas fundamentadas, identificar oportunidades de crescimento e otimizar a comercialização dos nossos produtos.

Em comparação com percursos ligados a áreas de investigação ou de desenvolvimento de produtos, o benefício está, desde logo, na capacidade de traduzir a inovação em medicamentos diferenciadores e acessíveis para o doente e, ao mesmo tempo, garantir que esses fármacos atendem às necessidades de quem deles precisa para que, efetivamente, consigam ter sucesso no mercado.

Estava há relativamente pouco tempo na Lundbeck quando aceita o desafio de ser Country Manager. Para além disso, acabara de eclodir uma pandemia global inédita e a incerteza era generalizada. Como surgiu a oportunidade e o que a levou a aceitá-la?

O desafio que surgiu da Lundbeck constituiu uma enorme oportunidade de continuar o meu desenvolvimento pessoal e profissional, pelo que era impossível não o ter aceitado. Acrescente-se o facto da Lundbeck ser a única companhia que se dedica exclusivamente à investigação, desenvolvimento e comercialização de medicamentos inovadores numa área tão estimulante como é a do Sistema Nervoso Central. Efetivamente, tudo isto aconteceu quando tínhamos acabado de entrar numa pandemia mundial que, para além de nos colocar a todos à prova com uma nova forma de viver, veio evidenciar e trazer para discussão pública a problemática da saúde mental, que ganhou palco, um palco muito relevante que tem conseguido devolver a importância a este tema que, até então, era alvo de estigma, incompreensão e vergonha por parte de muitos.

Que grandes objetivos lhe foram entregues e que avaliação faz neste momento do percurso?

Foram-me entregues grandes desafios, pois a nossa grande ambição é trabalhar incansavelmente para sermos reconhecidos como o parceiro número um na saúde mental e do cérebro. Esta experiência, até ao momento, proporcionou vivências excecionais e extremamente enriquecedoras que se traduzem em resultados de crescimento sustentado da nossa organização, na satisfação e grau de compromisso demonstrado pelos nossos colaboradores e da consciencialização da relevância da nossa missão como companhia, que é disponibilizar terapêuticas médicas transformadoras, que capacitem os doentes e promovam o seu desenvolvimento de forma a que possam sentir, pensar e fazer melhor, ao mesmo tempo que lhes permite construir projetos de vida como qualquer outra pessoa.

Comemoram 20 anos de presença em Portugal. Que iniciativas assinalaram esse marco na história da companhia?

No mês de outubro fez um ano que realizámos o nosso evento do 20º aniversário. Foi um momento de celebração muito importante para a Lundbeck Portugal, onde conseguimos reunir vários players que fazem parte de nosso longo percurso de já duas décadas e que têm sido fundamentais para fazerem chegar aos doentes as nossas inovações terapêuticas, fazendo, assim, a diferença na qualidade de vida das pessoas e das suas famílias.

No evento “Expandir Ligações” pretendemos, acima de tudo, que estivessem presentes especialistas de várias áreas, como a Neurologia, Psiquiatria e Medicina Geral e Familiar (MGF), assim como enfermeiros de saúde mental, no sentido de fomentar um debate multidisciplinar acerca das perturbações psiquiátricas e neurológicas.

Por outro lado, e também como forma de marcar a presença da Lundbeck em Portugal, desenvolvemos uma campanha de sensibilização na área da Depressão, uma das doenças mentais mais prevalentes em Portugal e no mundo, que designamos por “Depressão Sem Rodeios”, que tem como um dos seus principais objetivos educar a população e combater o estigma nas suas várias formas, nomeadamente o estigma da doença, do tratamento e o da própria especialidade de psiquiatria. Esta campanha iniciou-se em 2021 e, deste então, tem englobado várias iniciativas junto da população, das quais destaco, por exemplo, o podcast “Depressão sem rodeios”, o talk-show “Questionar é Elemental”, e o inquérito “A visão dos portugueses sobre a depressão”, um estudo que apresentámos este ano e que deu a conhecer o que realmente os portugueses sabem e conhecem sobre uma das mais importantes doenças do século.

São uma companhia completamente focada na saúde mental e do cérebro, áreas que ganharam grande awareness. O vosso compromisso é “ir além do comprimido”. Que tipo de ações têm levado a cabo diretamente junto dos doentes e das populações?

Como ponto prévio, gostaria de esclarecer que somos uma companhia que tem precisamente o seu core na “importância do tratamento/medicamento/comprimido”, ou seja, é nossa missão investir na luta contra o estigma e medos muitas vezes infundados, baseados em crenças erradas que ainda existem face à terapêutica farmacológica com ação na saúde mental e do cérebro, para além da luta contra o estigma sobre estas mesmas doenças. Mas, sim, estamos perfeitamente cientes da crescente consciência em torno dessas áreas e, obviamente, promovemos o aumento da literacia, no que diz respeito à importância de uma abordagem holística que contemple uma abordagem terapêutica – que, reforço, é fundamental para o sucesso do tratamento – com a adoção de outras medidas complementares de igual importância. Para alcançar esse desígnio, temos desenvolvido diversas ações junto dos doentes e das populações, incluindo programas de educação sobre saúde mental, parcerias com associações de doentes, campanhas de sensibilização pública, estudos reais sobre a população portuguesa e o apoio a iniciativas de investigação nestas áreas. Além disso, trabalhamos todos os dias para reduzir a discriminação que ainda está associada às doenças mentais, promovendo uma discussão franca e aberta e, claro, o debate sobre o acesso a tratamentos inovadores e diferenciadores que podem mudar o paradigma do tratamento destas patologias.

Sentem o impacto deste “novo mediatismo” no negócio?

Apesar de tudo, não tanto como seria de esperar. A verdade é que a crescente consciência sobre a saúde mental e do cérebro levou a uma maior procura por soluções e tratamentos, no entanto, as fake news e desinformação que infelizmente abundam sobre a nossa sociedade, continuam a limitar o seguimento adequado de muitos destes doentes e a implementação de terapêuticas mais modernas e atuais que já nada têm a ver com os medicamentos que se utilizava há várias décadas. Continua a fazer muito sentido o investimento em campanhas que melhorem a educação da comunidade e que lutem contra a diabolização dos medicamentos nesta área terapêutica especifica.

Em 2021 assistimos a uma ligeira quebra dos resultados da companhia, assim como do investimento em I&D. Como fechou 2022?

Em 2022 conseguimos recuperar facilmente e acabámos por alcançar um desempenho muito sólido e um crescimento muito significativo. A nossa estratégia de negócio foi ajustada para abordar os desafios atuais e foi realizado um enorme investimento estratégico para impulsionar a inovação e garantir o crescimento sustentável a médio e longo prazo.

Esperam-se lançamentos importantes para 2023? Pode detalhar?

Em Portugal, vamos lançar, ainda este ano, uma nova solução terapêutica na área da enxaqueca que promete revolucionar o mercado nacional. Esta é uma das patologias a que nos temos dedicado com grande empenho e inovação nos últimos anos, por forma a conseguir ajudar o maior número de doentes, uma vez que estamos a falar de uma doença que afeta, em todo o mundo, entre 12% a 15% da população mundial. Muito em breve teremos novidades sobre esta nova terapêutica.

Acredita que as questões de sustentabilidade e responsabilidade climática já têm impacto no próprio negócio ou continuam (e por quanto tempo) a ser “meras” políticas de responsabilidade social?

As questões de sustentabilidade e responsabilidade climática já têm um impacto significativo no nosso negócio e continuarão a ser fatores críticos no futuro. Os consumidores estão cada vez mais conscientes das práticas empresariais sustentáveis e os reguladores também estão a impor critérios e requisitos mais rigorosos. Estamos fortemente comprometidos em reduzir a nossa pegada ambiental, melhorar a eficiência energética e a promover a sustentabilidade em toda a nossa cadeia de valor. E sim, evidentemente que essas ações não são apenas políticas de responsabilidade social, mas também fatores-chave para a nossa estratégia de negócios.

Pessoalmente, quais acha que serão os grandes motores de crescimento da IF no futuro próximo? E quais os grandes constrangimentos que irá enfrentar?

Acredito que os grandes motores de crescimento da IF num futuro que não está muito distante incluirão avanços na terapêutica genética, medicina personalizada e tratamentos inovadores, baseados em tecnologias como a Inteligência Artificial (IA). No entanto, penso que vamos enfrentar também desafios relacionados com limitações no acesso à inovação, uma crescente pressão nos preços, regulamentação ainda mais rigorosa e o aumento da concorrência global.

Há anos que falamos na “transformação digital” e no seu impacto no setor. Hoje, estamos já em pleno “caos” da IA. Que mudanças antecipa no negócio e no mundo?

A transformação digital e o avanço da Inteligência Artificial estão a causar mudanças profundas no nosso setor e no mundo em geral. Na Lundbeck, antecipamos que vamos presenciar um aumento na investigação e desenvolvimento de medicamentos assistidos por IA, algo que pode acelerar significativamente o processo de investigação e desenvolvimento. Além disso, a telemedicina e a monitorização remota dos doentes são áreas que vão, com toda a certeza, desempenhar um papel cada vez mais importante na prestação de cuidados de saúde. A par disso, considero que serão cada vez mais emergentes os desafios relacionados com a proteção de dados e questões éticas no uso da IA na medicina. A colaboração interdisciplinar e a adaptação ágil serão essenciais para aproveitar ao máximo os benefícios de todas essas transformações digitais.

Há uma carreira internacional no seu horizonte?

Possivelmente, quem sabe…. É sempre um orgulho para o nosso país ver portugueses espalhados pelo mundo, em posições de topo nas organizações onde operam. No entanto, lamento que muitos o tenham de fazer pela busca de melhores condições de trabalho, pelo que também apelo às empresas que defendam iniciativas de retenção de talentos tão importantes para o crescimento do nosso país.

Artigo originalmente publicado na edição 128 da Marketing Farmacêutico, que pode ler na íntegra clicando aqui.