Arrancou esta sexta-feira, dia 29 de setembro a campanha de vacinação contra a gripe e covid-19, com o evento a ocorrer, como não poderia deixar de ser dadas as novidades deste ano, numa farmácia. Neste caso, foi na Farmácia Silveira, em São Domingos de Rana, não só sob os olhares atentos dos jornalistas e dos responsáveis políticos e da saúde, como também da equipa da farmácia e dos primeiros utentes a serem vacinados a nível nacional.
Fernando Araújo, diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi o primeiro a usar da palavra, afirmando mesmo que se tratava de um “momento simbólico” que acontecia de uma forma “inovadora”. No entanto, deixou desde logo um alerta sobre esta campanha sazonal: “É verdade que, este ano, a expetativa e a perceção de risco por parte dos portugueses é mais baixa”.
Prosseguindo, o responsável disse que era importante “pensar diferente e ousar mudar”. “E isso fez-se, aumentando a proximidade e a simplicidade dos procedimentos”, garantiu. “São 3500 pontos de vacinação onde vamos administrar quase 5 milhões de vacinas em cerca de dez semanas. Um objetivo ambicioso que temos a certeza que iremos cumprir”, frisou, antes ainda de deixar um agradecimento aos farmacêuticos e à Associação Nacional das Farmácias (ANF) que “sempre trabalhou de forma construtiva na procura de soluções”.
Ema Paulino, presidente da ANF, destacou “um trabalho de meses, um trabalho complexo, numa perspetiva de aumentar, de forma significativa, os pontos de vacinação em todo o país”.
“As farmácias comunitárias estão, sem dúvida alguma, mais uma vez, não apenas a corresponder às expectativas, mas a superar as expectativas. E com frequência. Quero agradecer às instituições do Serviço Nacional de Saúde que também confiaram na rede de farmácias para este grande desígnio de saúde pública. E, portanto, cabe-me a mim, no fundo, agradecer a todas as equipas das farmácias portuguesas que de facto ao longo das últimas semanas demonstraram esta vontade e disponibilidade para estarem envolvidas nesta campanha”, declarou a responsável.
Acrescentou ainda estar convicta de que “as equipas altamente qualificadas das farmácias também irão contribuir para a sensibilização, esclarecimento de dúvidas numa fase diferente da pandemia, por uma ideia de que a pandemia, nomeadamente contra a Covid-19, já passou, e as farmácias, as equipas das farmácias vão ter esta oportunidade de esclarecer a população”. “E estamos convictos de que vão contribuir para um aumento da cobertura vacinal, que é algo que nos pode orgulhar enquanto país, quando comparamos com os outros países do mundo”, disse ainda.
Já Manuel Pizarro, ministro da Saúde, lembrou logo no início das suas declarações que se trata de um “grande projeto de saúde pública”. “Este é um projeto que visa assegurar e se possível melhorar, porque temos sempre essa missão, os elevadíssimos níveis de cobertura vacinal na época de inverno de 2023 a 2024. Nós sabemos que existe uma certa fadiga das pessoas, uma certa sensação de que esta pesadelo já faz parte do passado, mas a verdade é que o risco existe, alertou”.
“Felizmente, fomos capazes de adquirir, para todos os portugueses que têm indicação para a vacina, a quantidade de vacinas necessárias e, mais ainda, as vacinas da gripe e da covid-19 adaptadas às novas estirpes. E, portanto, isso garante que os portugueses que se vacinarem têm mesmo um elevadíssimo nível de proteção. Proteção contra a doença, mas chamo a atenção sobretudo proteção contra a doença grave”, frisou.
E o ministro não quis também deixar cair a extraordinária a colaboração e a abertura das farmácias e dos farmacêuticos”. “Quero dirigir um agradecimento muito especial ao professor Hélder Mota Filipe, porque sem a Ordem dos Farmacêuticos, talvez isto não tivesse sido possível, não era seguramente possível, com esta qualidade e com esta serenidade e com esta tranquilidade, como vamos poder fazer este processo”, frisou.
Depois da conferência de imprensa e das primeiras vacinas dadas para todo Portugal ver, o Netfarma falou em exclusivo com o Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos Hélder Mota Filipe sobre o processo de vacinação nas farmácias.
“É fundamental que nós consigamos ter a maior cobertura possível e seria estranho não envolver este potencial imenso dos profissionais [farmacêuticos] que podem ajudar a esta cobertura vacinal, quer da gripe, quer da covid-19, no sentido de diminuir o risco de doença grave e morte que está associada a estas infeções. Já nos basta as situações em que não podemos prevenir certas doenças graves, seria um erro não aproveitarmos todo este potencial para criar uma situação de prevenção de doença grave”, começou por afirmar.
Sobre as notícias que têm surgido sobre possível falta de vacinas, o bastonário foi claro: “Relativamente ao acesso à vacina e à quantidade de vacinas, o Sr. Ministro acabou de garantir que há vacinas para todos os cidadãos com indicação para a vacinação. Nem todas, e ele também disse, e eu reafirmo, não podemos ter todas as vacinas no primeiro dia, até porque é um esforço de produção a nível internacional para garantir, digamos, a cobertura a todos os mercados. Mas teremos as vacinas, isso está contratado, teremos a quantidade de vacinas suficientes vinda em diferentes tranches e as farmácias têm tido um esforço de colaborar neste processo através do agendamento das vacinas. Os farmacêuticos sabem quantas vacinas vão ter disponíveis numa semana e gerirão essas vacinas disponíveis através do agendamento dos seus utentes”.
Uma questão já levantada sobre Hélder Mota Filipe em várias ocasiões tem a ver com o acesso a dados em saúde, e o responsável acha que a “novidade” é bastante importante neste processo, mas também na generalidade. “Os farmacêuticos passaram a ter acesso neste novo processo ao histórico vacinal dos utentes e portanto aos dados relevantes. Eu sempre disse que os farmacêuticos precisam ter acesso aos dados em saúde que sejam relevantes para aquele serviço e, portanto, passam a ter acesso aos dados relevantes para aquele utente para a prestação daquele serviço, que é uma novidade, e passam também a ter a capacidade de registar as vacinas na plataforma de vacinação. Isto são dois passos importantes na direção certa. Ter acesso aos dados clínicos relevantes do utente e, ao mesmo tempo, ter acesso às bases de dados que permite facilmente registar os atos que são praticados”, finalizou.
O Netfarma falou ainda com Luís Ricardo, de 66 anos, o primeiro português a levar as duas vacinas nesta campanha. Sorridente e bem disposto, referiu que “as câmaras não afetaram nada” o seu comportamento, “nem a vacinação”, e que estava “tudo bem”. Achou o “processo muito bem feito” e quer “manter a situação no país, para ser dos que mais vacinam no mundo”. “Vamos tomar as vacinas porque está provado que funcionam. Eu sempre fui vacinado com todas as vacinas possíveis e imaginárias [risos]. E principalmente a rapaziada da minha idade, convém virem vacinar-se. Inscrevam-se que é grátis”, finalizou.