Vendas de ansiolíticos aumentam em 2017, depois de dois anos a descer 775

No ano passado, os portugueses compraram 10,6 milhões de embalagens de ansiolíticos, um acréscimo muito ligeiro face ao ano anterior (pouco mais de sete mil caixas), mas que representa uma inversão da tendência para a quebra que se verificava desde 2015. Venderam-se também nas farmácias perto de 8,4 milhões de embalagens de antidepressivos, mais 427 mil do que no ano anterior, indicam os dados adiantados pelo INFARMED.

Em Portugal, «quase não há respostas para além das farmacológicas», reage o diretor do Programa Nacional de Saúde Mental, Miguel Xavier, ao jornal “Público”, lembrando que já os dados anteriores a estes indicavam que, no consumo de ansiolíticos e antidepressivos, «estamos quase no dobro da média europeia», situação que não se pode explicar apenas pela elevada prevalência de perturbações mentais no país.

Este fenómeno tem que ver com «o facto de não haver nos locais onde as pessoas acorrem respostas para além das farmacológicas», afirma, lembrando que os médicos de família não têm muitas vezes os recursos necessários para tratar as pessoas sem fármacos.

«Os médicos recebem os doentes, não têm para onde os referenciar e o que fazem? Medicam», sintetiza. E, se em alguns casos não haveria outra hipótese, noutros seria possível uma abordagem sem medicação, assegura o psiquiatra e professor universitário, para quem o investimento na saúde mental deve tornar-se uma prioridade e ser «proporcional ao sofrimento» que causa aos doentes e famílias.

Voltando aos dados dos psicofármacos, em 2017 aumentaram também as vendas de antipsicóticos. Mas o que tem preocupado mais os especialistas é o elevado consumo de ansiolíticos. Depois de se terem multiplicado os alertas para o eventual consumo excessivo de tranquilizantes, o consumo estava a diminuir ligeiramente.
 
Em 2017, o anterior diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental, Álvaro Carvalho, chegou mesmo a afirmar que o consumo de tranquilizantes em Portugal atingira «níveis de risco para a saúde pública» e até sugeriu uma medida dissuasora – a diminuição da comparticipação estatal deste tipo de medicamento.

Fazendo as contas com todo o tipo de psicofármacos (dados de 2016), o bastonário da Ordem dos Psicólogos conclui agora que gastamos quase 600 mil euros por dia só com este tipo de medicamentos. «É muito dinheiro, diz, mesmo sabendo-se que a prevalência de perturbações mentais é muito elevada em Portugal (os diagnósticos de ansiedade nos centros de saúde duplicaram entre 2011 e 2017 e os registos de depressão cresceram 43% neste período).