Veneno de peixe tropical pode ajudar a desenvolver novos analgésicos 646

Veneno de peixe tropical pode ajudar a desenvolver novos analgésicos

 


31 de março de 2017

O veneno de um género de pequenos peixes habitantes de recifes de coral oferece possibilidades no desenvolvimento de novos medicamentos contra a dor, conclui um estudo de investigadores internacionais, publicado ontem.
 
Os blénios “dentes-de-sabre” do género Meiacanthus, que não ultrapassam os 10 centímetros de comprimento, alimentam-se essencialmente de plâncton e algas, mas enfrentam agressivamente predadores muito maiores, utilizando dois dentes caninos no maxilar inferior que têm na base glândulas que segregam veneno, que os investigadores descobriram ter uma composição química complexa integrando componentes semelhantes à heroína.

«Estes peixes injetam os outros com péptidos (agregados de moléculas de aminoácidos) opióides que atuam como a heroína ou a morfina, inibindo a dor em vez de a causarem. É um veneno quimicamente notável», afirmou o principal autor do estudo, Brian Fry, da universidade australiana de Queensland.

«O veneno torna os peixes mordidos mais lentos e entorpecidos ao atuar nos centros nervosos suscetíveis às substâncias opióides», refere Brian Fry no artigo que dá conta do estudo, publicado na revista “Current Biology”, e que envolveu também investigadores da universidade holandesa de Leiden, das universidades britânicas de Liverpool, Bangor e Anglia Ruskin e da universidade internacional Monash.

Os investigadores testaram as propriedades do veneno dos pequenos peixes em ratos de laboratório.

Os medicamentos à base de opióides sintéticos são poderosos no combate à dor intensa, provocada por cancros por exemplo, mas provocam altos níveis de dependência.

Estudos publicados em revistas científicas têm dado conta também do potencial do veneno de um molusco marinho da família dos cones como alternativa a medicamentos opióides no controlo da dor.

Brian Fry defende que o estudo sobre o veneno dos blénios «é um excelente exemplo das razões por que a natureza deve ser protegida», para que não desapareçam espécies aparentemente insignificantes mas que poderão dar origem a novos medicamentos.

A família dos blénios (Blenniidae) inclui mais de 400 espécies, distribuídas por 58 géneros, presentes em águas quentes e temperadas nos oceanos Pacífico, Índico e Atlântico.

Em Portugal existem várias espécies de blénios – de um género distinto dos blénios dentes-de-sabre -, que são frequentemente considerados cabozes, apesar de serem de uma família diferente, e também conhecidos pelo nome comum Marachomba.