Visita ao Santa Maria: Ana Paula Martins anuncia resolução de listas, Montenegro não quer vender ilusões e as expectativas altas de Marcelo 318

A ministra da Saúde anunciou, ontem, a resolução das listas de espera de cirurgia para doentes oncológicos que ultrapassaram o tempo máximo recomendado e acusou de “má-fé” quem diz que as medidas de emergência não estão a ser cumpridas.

No final de uma visita ao hospital de Santa Maria, em Lisboa, na qual acompanhou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, referiu, como avança a Lusa, que a 30 de abril a lista de espera era de 9.374 doentes oncológicos e que foram operados em quatro meses cerca de 20 mil doentes.

“Em quatro meses. Como não estar grata aos nossos profissionais de saúde?”, salientou a ministra, acrescentando que mais de 99% das cirurgias foram realizadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A ministra sublinhou que foi “conseguido pela primeira vez” eliminar a lista de espera para doentes oncológicos que aguardavam cirurgia acima do tempo recomendado no Hospital de Santa Maria.

O programa OncoStop, que prevê a regularização das listas de espera para cirurgia oncológica, é uma das medidas urgentes do Plano de Emergência e Transformação na Saúde, que integra 54 medidas – urgentes, prioritárias e estruturantes -, com o objetivo de garantir o acesso a cuidados de saúde ajustados às necessidades da população.

O cumprimento das medidas de emergência foi notícia nos últimos dias, apontando-se a baixa execução do plano de emergência, mas hoje a ministra rejeitou críticas, dizendo que as medidas “estão no terreno”.

“Só por desconhecimento e má-fé podem dizer que não estão a ser implementadas no tempo previsto”, disse Ana Paula Martins.

Sobre a linha dedicada para grávidas no SNS24, “outro exemplo de sucesso”, a ministra da Saúde disse que já foram atendidas mais de 19 mil mulheres grávidas, desde 01 de junho.

“Há um ano estas 19 mil mulheres andavam de maternidade em maternidade à procura de uma porta aberta”, disse.

Ana Paula Martins reconheceu que há “grandes desafios”, mas disse estar convencida de que com o apoio das equipas técnicas a questão dos encerramentos de urgências não acontecerá no próximo verão.

“Não viemos aqui hoje dizer que o trabalho está concluído, bem pelo contrário. Mas que estamos a cumprir e vamos continuar”, acrescentou a ministra, lembrando que foram assinados “centenas de contratos” para requalificação de centros de saúde e hospitais (cerca de 500 em todo o país).

“Há gravíssimos problemas por resolver, já resolvemos algumas situações graves (…) deem-nos tempo para fazermos o resto”, pediu.

 

Montenegro: Recusa-se a “vender ilusões”

O primeiro-ministro defendeu que o Governo está a cumprir as metas do plano de emergência para a saúde, mas admitiu que “seria irresponsável e irrealista dizer que as urgências estão a funcionar bem”.

“Aquilo que eu posso dizer é que nós estamos a cumprir. Estamos a cumprir as nossas prioridades. Nós elencámos como prioritário recuperar a lista de espera dos doentes oncológicos e foi materializado, todos aqueles que tinham ultrapassado o tempo máximo de resposta garantido, ou foram operados, ou têm as suas cirurgias agendadas para as próximas semanas”, salientou o primeiro-ministro, citado pela Lusa.

O chefe do executivo recusou-se a “vender ilusões” aos portugueses sobre o estado atual do setor, afirmando que o Serviço Nacional de Saúde que o atual executivo herdou do anterior socialista estava “absolutamente caótico e sem vislumbrar as melhorias de que carecia”.

“Seria uma declaração absolutamente irresponsável e irrealista dizer que as urgências estão a funcionar bem e que há uma capacidade de resposta plena. Nós sabemos que não há. Nós esperamos no próximo verão, com o trabalho que vamos desenvolver durante este ano, não ter os problemas que estamos a ter este verão e sobretudo aqueles que tivemos nos últimos oito anos”, realçou.

Contudo, o primeiro-ministro salientou o facto de terem sido registadas “19.050 chamadas de mulheres grávidas, que em vez de andarem à procura de um serviço de urgência disponível para as apoiar, foram encaminhadas para equipas que estavam já à sua espera para as atender”.

“Depois de sabermos isto, a pergunta que eu lanço às portuguesas e aos portugueses é: nós estamos com mais ou menos capacidade de resposta? Nós estamos com mais capacidade de resposta. É suficiente para dar a todos o acesso que nós queremos garantir? Não, não é suficiente. Ainda é preciso fazer muito mais”, reconheceu.

Montenegro assegurou que “as grávidas portuguesas têm razões para estar hoje mais seguras do que estavam há meio ano atrás”.

 

Marcelo: Foram criadas “expectativas muito altas”

O Presidente da República considerou que foram criadas “expectativas muito altas” quanto ao plano de emergência do Governo para a saúde e disse esperar que os constrangimentos nas urgências deste ano “não se repitam” no próximo.

“Sendo certo que era um plano para dois anos, faseado ao longo de dois anos, criou expectativas muito altas quanto ao calendário fixado. E as pessoas, naturalmente, pensaram que esse plano de emergência poderia ser todo cumprido ao mesmo ritmo e ser cumprido não em dois anos, faseadamente, mas em poucas semanas ou em poucos meses, sobretudo calhando no período que é um período sempre complicado, como é o verão”, salientou, segundo a Lusa, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Eu acho que todos criámos, eu criei, expectativas muito altas. Porque perante a gravidade dos problemas, ao falar-se de um plano de emergência, cada um de nós deseja que a resposta seja o mais rápido possível. Portanto, as expectativas foram expectativas criadas, muito altas, relativamente a uma situação em que, em muitos casos, não era possível corresponder às expectativas”, sublinhou.

O chefe de Estado disse ver como um “caso de sucesso pleno” a resolução das listas de espera de cirurgia para doentes oncológicos que ultrapassaram o tempo máximo recomendado, uma das 54 medidas do plano de emergência para a saúde do Governo PSD/CDS-PP.

Para o Presidente da República, o que importa “é ir acompanhando agora as várias outras medidas para ver se é possível, e se é possível dentro de que prazos – e naturalmente que o Governo quererá que seja rápido, as circunstâncias podem permitir que seja mais rápido ou menos rápido – em que medida é que o calendário é cumprido, em algumas medidas ou noutras medidas”.