Formado em Ciências Farmacêuticas pala Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Vítor Borges cedo percebeu que eram a microbiologia e a genética molecular as suas verdadeiras paixões. Especializou-se e o seu trabalho foi distinguido pela Sociedade Europeia de Virologia Clínica (ESCV) com o Prémio Heine-Medin.
Investigador no Departamento de Doenças Infeciosas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), foi reconhecido pelo seu contributo na área genómica e microevolução de vírus com impacto na Saúde Pública, em particular pelo trabalho desenvolvido relativamente aos vírus SARS-CoV-2 e Monkeypox.
Em declarações ao Netfarma, Vítor Borges admite não ver “este prémio apenas como um reconhecimento individual” mas de toda a sua equipa. “Do trabalho que temos feito nos últimos anos de forma a capacitar o INSA e o país com estas novas ferramentas que permitem fazer a vigilância dos agentes patogénicos com base na análise genética”, explica, ao referir que os últimos dois anos e meio foram desafiantes.
“O trabalho de coordenarmos a vigilância genómica do vírus SARS-CoV-2, o papel que desempenhamos na sequenciação do vírus Monkeypox associado a este grande surto que está a ocorrer também em 2022″: são estes os destaques que lhe valeram o Prémio Heine-Medin entregue desde 1983, que homenageia trabalhos científicos que contribuam para a promoção da compreensão das doenças infeciosas de origem viral.
“Fomos o primeiro grupo a nível mundial a libertar a primeira sequência de Monkeypox associada ao grande surto de 2022”
Os vírus, sejam eles patogénicos ou não, estão em constante diversificação, acumulando mutações que os fazem evoluir e adaptar. Neste sentido, a vigilância genómica é essencial para acompanhar este processo de mutação e consequentemente informar os especialistas e a população sobre os perfis genéticos associados a casos de doença no Homem. “Para o SARS-CoV-2, este trabalho permitiu-nos perceber como este vírus foi introduzido no nosso país no início da pandemia, quais foram os principais países de origem, e depois de introduzido como se disseminou”, exemplifica.
“Continuamos a receber, todas as semanas, amostras de dezenas de laboratórios e vamos reportando os dados num site que criamos para o efeito. Aliás, esta foi umas das valências mais relevantes. Sendo um novo agente patogénico, foi claro para nós que todos os dados que fôssemos gerar teriam de ser divulgados de forma transparente e atempada para a comunidade científica e para o público em geral”, garante Vítor Borges.
O aparecimento e disseminação do vírus Monkeypox foi também desafiante, uma vez que a sua sequenciação genómica “foi mais complicada”. Ainda assim, “e isto também terá contribuído para a atribuição deste prémio, fomos o primeiro grupo a nível mundial a libertar a primeira sequência associada a este surto de 2022″.
As “primeiras sementes” da Farmácia
Enquanto curso “bastante abrangente em termos de conteúdos, desde epidemiologia a química e farmacologia”, as Ciências Farmacêuticas apresentam uma “abrangência que com certeza foi um fator positivo e um trunfo” na carreira de Vítor Borges. “Essas primeiras sementes e o conhecimento com vários campos contribuíram para o trabalho desenvolvido de seguida”, garante o investigador.
Seguindo-se novas especializações, nas áreas da Biologia, com especialização em Genética Molecular, explica que a “abrangência de conteúdos que são lecionados no curso de Ciências Farmacêuticas como um ganho” relevante para os trabalhos que hoje desenvolve.
Aquando da premiação, o INSA destacou em comunicado os “seus trabalhos científicos no âmbito da investigação do surto de Doença dos Legionários ocorrido em 2014 em Portugal, a implementação de uma abordagem disruptiva para analisar o genoma da bactéria causador de sífilis, bem como o desenvolvimento de uma ferramenta bioinformática para a integração da análise do genoma do vírus influenza e, mais recentemente, do novo coronavírus SARS-CoV-2 na vigilância destes agentes infeciosos”.