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Zika: Estudos brasileiros identificam o vírus em bebés com microcefalia

16 de Fevereiro de 2016

Dois estudos brasileiros distintos identificaram o vírus Zika no cérebro de bebés que nasceram com microcefalia e morreram devido a complicações da doença, mas os cientistas ainda não estabeleceram uma relação direta entre os factos.

A informação foi facultada ontem por fontes académicas que se referiam às duas investigações: uma conduzida por investigadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a outra por cientistas da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do estado brasileiro do Paraná.

O vírus já tinha sido encontrado em amostras de cérebro de bebés com microcefalia noutros dois estudos, um realizado por pesquisadores do Centro de Controlo de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) e outro num laboratório na Eslovénia.

Nos quatro estudos, as amostras analisadas foram enviadas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, fundação estatal brasileira), o maior centro de pesquisa na área da saúde da América Latina, avançou a “Lusa”.

O Brasil registou, nos últimos meses, 5.079 casos suspeitos de microcefalia, um aumento significativo no número de notificações da doença, com as autoridades a atribuírem o salto nas ocorrências à propagação do Zika.

As autoridades confirmaram que, pelo menos em 42 dos casos, as mães dos bebés com malformação do crânio foram infetadas pelo vírus durante a gravidez.

Cientistas do Laboratório de Patologia Experimental da PUC do Paraná, que já haviam descoberto que o vírus pode entrar na placenta da mãe, identificaram-no agora em amostras de tecidos do cérebro de fetos com microcefalia que morreram no nordeste do Brasil.

«Conseguimos ver que há uma relação entre o Zika e a microcefalia», assegurou a médica Lúcia Noronha, que coordenou a pesquisa, acrescentando, contudo, que o resultado não pode ser considerado conclusivo devido às poucas amostras estudadas até agora, sendo necessário analisar mais amostras para confirmar ou descartar a ligação.

O estudo da UFRJ, realizado em conjunto com investigadores de um instituto público do estado da Paraíba, também identificou o genoma do vírus nos cérebros de dois bebés que morreram pouco após o nascimento, um com microcefalia e outro com uma malformação cerebral diferente.

Segundo o virologista Amilcar Tanuri, investigador da UFRJ e um dos responsáveis pelo estudo, «a infeção pelo vírus Zika pode causar uma série de distúrbios cerebrais e não apenas microcefalia», sendo que «o bebé pode nascer com o perímetro normal do cérebro mas com outra alteração», pois «registam-se alterações no tálamo e no desenvolvimento do cerebelo, entre outros problemas».