Zika: Investigadores provam pela primeira vez relação entre o vírus e microcefalia 12 de Fevereiro de 2016 Um grupo de investigadores eslovenos anunciou ter conseguido provar a relação entre o vírus Zika e a microcefalia ao investigar o caso de uma grávida eslovena que foi infetada durante uma estada no Brasil. Mara Popovic, do Instituto de Patologia da Faculdade de Medicina de Liubliana, anunciou ontem em conferência de imprensa na capital eslovena que o vírus foi encontrado nos neurónios do cérebro do embrião da mulher, contagiada no início da gestação. Fica assim demonstrado que o Zika ataca sobretudo as células nervosas do feto, segundo Popovic, e confirmam-se as fortes suspeitas dos especialistas sobre a relação da microcefalia com o vírus. Os últimos dados das autoridades sanitárias do Brasil, o país mais afetado, com entre 440.000 e 1,3 milhões de infeções pelo Zika, apontam para um assinalável aumento do número de recém-nascidos com microcefalia na região nordeste do país, divulgou a agência “Lusa”. O Governo brasileiro declarou mesmo, no ano passado, um alerta sanitário perante o aumento de casos de microcefalia em bebés recém-nascidos, devido à suspeita de poderem estar associados ao vírus, o que agora se comprovou. Tatjana Avsic Zupanc, do Instituto de Microbiologia e Imunologia, indicou que o feto pode ser contagiado com o vírus em qualquer fase da gestação, mas que os danos mais graves ocorrem no primeiro trimestre da gravidez, noticiou a agência eslovena STA. Os investigadores eslovenos garantem ter comprovado que os danos no sistema nervoso central, relacionados com o contágio durante a gestação, são consequência da reprodução do vírus no cérebro do feto. A investigação que prova que o vírus pode passar da mãe infetada para o cérebro do feto e causar microcefalia foi publicada na revista médica “The New England Journal of Medicine”. Como explicou a diretora da Maternidade de Liubliana, Natasa Tul Mandic, a prova fez-se com uma grávida eslovena que esteve no Brasil durante o primeiro trimestre de gestação e regressou em seguida à Eslovénia. No último trimestre da gravidez, em outubro passado, foram detetadas por ecografia muitas irregularidades no desenvolvimento do feto e da placenta, pelo que se iniciaram as investigações, embora então não houvesse ainda qualquer suspeita de que se tratasse do Zika. Devido aos maus prognósticos e aos graves danos no cérebro do feto, a mulher decidiu interromper a gravidez. A autópsia e as investigações posteriores confirmaram que os problemas no desenvolvimento do cérebro do feto se deviam à infeção pelo vírus, com o qual a grávida tinha sido contagiada e que tinha transmitido ao embrião através da placenta. Na investigação, participaram vários investigadores – dirigidos por Tatjana Avsic Zupanc – da Faculdade de Medicina de Liubliana, da Clínica de Ginecologia e dos Institutos de Patologia e Microbiologia. Um representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Liubliana, Marijan Ivanusa, confirmou que a investigação representa «uma peça excecionalmente importante no ‘puzzle’ para provar que o vírus Zika realmente pode causar microcefalia». Contudo, segundo o responsável da OMS, a investigação não representa algo «dramaticamente novo», já que não existem medicamentos nem vacinas contra o Zika e a única coisa que resta é recomendar a proteção contra os mosquitos. «A dificuldade é que é impossível recomendar a milhões de mulheres nas regiões em que o Zika está mais presente que não engravidem. É importante que as mulheres dessas regiões se defendam dos mosquitos e se protejam das suas picadelas, e que os médicos controlem as mulheres em gestação e se os fetos se estão a desenvolver normalmente», frisou. |