23 de Junho de 2016 As autoridades europeias da Saúde reuniram-se ontem, em Lisboa, para discutir medidas de combate a um eventual surto de Zika na Europa, região onde o risco ainda é baixo a moderado, com exceção da Madeira, onde é elevado. Com a chegada da época dos mosquitos à Europa e as viagens ao Brasil, para os Jogos Olímpicos, aumenta o risco de propagação do vírus Zika nos países europeus, sobretudo em regiões onde haja a presença do mosquito Aedes. Para preparar medidas de prevenção e respostas ao aparecimento de Zika na Europa, onde não existe qualquer caso de infeção até ao momento (apenas casos importados), a Organização Mundial de Saúde (OMS) organiza, entre ontem e sexta-feira, uma reunião com 80 especialistas de 22 países. Portugal foi o país escolhido para o encontro, pela sua boa experiência em medidas de controlo de vetores e combate a estas doenças, disse a diretora para as Doenças Transmissíveis da Organização Mundial da Saúde Europa, Nedret Emiroglu, numa conferência de imprensa da Direção-Geral da Saúde (DGS), para explicar os objetivos da reunião. Para este encontro, pesa também o trabalho que tem sido desenvolvido pelas autoridades de saúde na prevenção e combate a doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, presente na ilha da Madeira, sobretudo nos conselhos limítrofes do Funchal, explicou o diretor-geral da Saúde, Francisco George. Nessa zona existe uma população de mosquitos que não estão infetados, mas podem ficar infetados, nomeadamente se picarem uma pessoa que tenha trazido o vírus de outro país, disse o responsável, acrescentando que o trabalho com as autoridades da Madeira é o de fazer com que os mosquitos não venham a ficar infetados e, assim, reduzir o risco de epidemia. «Há um trabalho de fundo a ser feito nas regiões todas da Europa, onde foram identificados mosquitos com capacidade de infeção, e às quais estamos especialmente atentos. Há possibilidade de reduzir riscos e esse é o guião que temos», disse. Essas regiões são a bacia do Mediterrâneo, a Madeira e a costa do Mar Negro, embora estas duas últimas sejam as únicas com risco elevado, por serem as que têm presença de mosquitos Aedes aegypti e, portanto, maior probabilidade de transmissão local de Zika, segundo a DGS e a OMS. Francisco George especificou que o nível de risco na Madeira é neste momento amarelo. A região da bacia do mediterrâneo tem mosquitos aedes, mas da espécie albopictus, que é o principal vetor do dengue, mas secundário do Zika. Quanto às medidas de prevenção a serem discutidas, no encontro que ontem começa, passam por controlar a introdução e propagação do mosquito, equipar os profissionais de saúde de meios para detetar precocemente a transmissão do vírus, informar as populações quanto a medidas de precaução que devem ter. Nedret Emiroglu destacou que existem 60 países afetados na América, e que essa experiência é «uma oportunidade única para os outros países da Europa aprenderem a tomar medidas de controlo, deteção de todos os caos de controlo laboratorial». No entanto, sublinhou que 80% dos países estão preparados para responder ao Zika e a maioria (66%) tem risco praticamente nulo de propagação do vírus, por ausência do mosquito, como é o caso de Portugal continental. Francisco George sublinhou que, mesmo nas zonas onde há mosquitos, o risco só existe para aqueles que estão infetados. Na Madeira existe o mosquito, mas não existem casos de Zika e a população daqueles mosquitos não tem crescido, porque têm sido tomadas medidas nesse sentido. Essas medidas são a vigilância, através da captura dos mosquitos e dos seus ovos, de evitar a existência de «pequenos reservatórios» de águas paradas, como pratos, tigelas ou latas de conserva, que podem servir como depósito de ovos, uso de inseticidas contra o mosquito e para os seus ovos. Quem viaja deve dormir com rede mosquiteira, usar repelente e roupa protetora contra as picadas. Segundo os dados da DGS, verificaram-se, até ao momento, em Portugal, 17 casos importados de Zika, dos quais dois na Madeira, que justificaram o acionamento imediato de um plano que inclui a autoproteção da pessoa infetada e a vigilância entomológica, com trabalho de terreno em que equipas especializadas se deslocam a 200 metros das áreas de trabalho e residência da pessoa e procurar mosquitos e potenciais locais onde possam pôr ovos. |