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Zika: Vírus também pode danificar células de cérebro adulto

19 de Agosto de 2016

Pesquisas com ratos em laboratório mostraram, pela primeira vez, o efeito devastador do Zika num determinado tipo de células do cérebro adulto, e não apenas sobre as de fetos, revela um estudo divulgado ontem nos Estados Unidos.

As células adultas envolvidas nas funções de aprendizagem e memória podem ser destruídas pelo vírus, ao qual se atribui a microcefalia, de acordo com o estudo publicado na revista científica “Cell Stem Cell”.

«O Zika pode penetrar claramente no cérebro de adultos e causar danos», afirmou Sujan Shresta, coautora do estudo e professora no Instituto de Alergia e Imunologia de La Jolla.

Se o efeito do vírus nos fetos se encontra documentado, em particular o risco de provocar uma microcefalia, o mesmo não se pode dizer relativamente aos adultos.

Os investigadores sabem que o Zika pode ser «catastrófico para a fase inicial de desenvolvimento do cérebro», sublinhou Sujan Shresta, mas frequentemente adultos infetados não apresentam sintomas. Os que se sentem doentes podem relatar nomeadamente erupção cutânea, dores no corpo e olhos vermelhos.

«O seu efeito no cérebro adulto pode ser mais subtil, mas agora sabemos do que estamos à procura», disse.

Os investigadores concentraram-se nas células progenitoras neurais, as quais constituem as primeiras formas das células do cérebro que se vão tornar neurónios, descritas como as “células estaminais” do mesmo.

O Zika pode atacar essas células nos fetos em desenvolvimento, levando à microcefalia nos bebés, que nascem com cabeças mais pequenas do que o normal, danos no cérebro e deficiências.

O cérebro dos adultos retém alguns nichos dessas células progenitoras neuronais, as quais reabastecem neurónios em partes do cérebro ligadas à aprendizagem e memória.

Recorrendo a biomarcadores fluorescentes em ratos, os investigadores viram que as células progenitoras neurais que foram concebidas para ser vulneráveis ao Zika eram mortas pelo vírus.

O estudo revela que a infeção do Zika estava relacionada com uma queda – entre quatro a 10 vezes – da proliferação das células progenitoras neuronais nos ratos adultos.

Duas partes do cérebro, incluindo o hipocampo, associado à memória, mostraram provas da morte das células e da redução da geração de novos neurónios, segundo o estudo.

«Os nossos resultados são bastante dramáticos», disse Joseph Gleeson, coautor do estudo e professor adjunto na Universidade Rockefeller.

«Em partes do cérebro que se “iluminaram” parecia uma árvore de natal», sublinhou o investigador, citado pela “Lusa”.

O efeito que o vírus Zika pode ter no cérebro humano adulto ao longo do tempo permanece, contudo, incerto.

Os investigadores sabem, a partir de estudos anteriores sobre o cérebro, que integrar novos neurónios nos circuitos da aprendizagem e memória é fundamental para a habilidade do cérebro para se adaptar e mudar.

Sem este processo, o cérebro “escorrega” para um declínio cognitivo e outras condições, tais como depressão e doença de Alzheimer, podem aparecer.

«Ficou muito claro que o vírus não estava a afetar sequer o cérebro todo como as pessoas estão a ver no feto» humano, disse Gleeson, ao referir-se à investigação em ratos.

«Nos adultos, são apenas estas duas populações que são muito específicas para as células-tronco que são afetadas pelo vírus. Estas células são especiais, e de algum modo muito suscetíveis à infeção», acrescentou.

Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o Zika surgiu no Brasil há cerca de dois anos e desde então espalhou-se rapidamente pelo país e parte do hemisfério sul.

Até ao momento, o maior foco de preocupação assenta no perigo que o Zika representa para grávidas e fetos, dado que surge associado a problemas congénitos quando ocorre infeção na gravidez, nomeadamente a microcefalia e a síndrome Guillain-Barré, uma doença autoimune.